Usar a ecolocalização para seguir os passos de golfinhos ameaçados na Amazónia



Seguir os passos de espécies ameaçadas, para ser possível monitorizar o desenvolvimento das populações, nem sempre é tarefa fácil, sobretudo quando habitam zonas que são de difícil acesso.

Por isso, uma equipa liderada por investigadores da Universidade Politécnica da Catalunha usou sistemas de captação dos cliques produzidos por duas espécies de golfinhos de água doce da bacia do rio Amazonas, no Brasil: o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis). Ambas estão ameaçadas de extinção, segundo as avaliações da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), com o estatuto de ‘Em Perigo’.

Durante a época das chuvas, entre abril e agosto, estas espécies tendem a migrar para partes do Amazonas repletas de vegetação densa que cobre as águas doces, indo além da capacidade dos investigadores que se deslocam de barco e que usam drones para os seguirem.

Por isso, para não lhes perderem o rasto e poderem continuar a monitorizar essas populações de delfínios, os investigadores recorreram a cinco hidrofones, colocados a profundidades entre os três e os cinco metros, para captarem os cliques que esses animais produzem, a chamada ecolocalização. O trabalho, que decorreu entre junho de 2019 e setembro de 2020, centrou-se na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, onde se cruzam os rios Solimões e Japurá.

Os sons captados foram depois analisados por algoritmos para diferenciar entre os cliques de ecolocalização produzidos pelos golfinhos, os ruídos produzidos por embarcações e os sons da chuva a embater contra a superfície do rio.

Para os autores do artigo publicado na revista ‘Scientific Reports’, os dados recolhidos permitem concluir que “as baías formadas em áreas de confluência”, em que dois ou mais rios se cruzam, “são um importante habitat para os golfinhos do rio”, sobretudo para pares de progenitoras e crias, bem como para juvenis, que ainda não atingiram a maturidade.

Os investigadores acreditam que esses golfinhos usam essas áreas como refúgios, quer pela maior abundância de presas, quer para se protegerem do comportamento mais agressivo de alguns machos.

Defendem que este tipo de metodologia deverá ser usado mais amplamente para que melhor se possa compreender as preferências de habitats destas espécies de golfinhos do rio Amazonas. E explicam que “como espécies sentinela dos sistemas aquáticos que habitam, os golfinhos do rio podem constituir um sistema de deteção precoce de desequilíbrios dos ecossistemas”.





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