Ações de restauro não estão a conseguir salvar os recifes de coral

Os recifes de coral estão entre os ecossistemas mais ameaçados do mundo. Albergando uma grande diversidade de formas de vida, quase tanta como a que se encontra nas florestas húmidas tropicais em terra, estão cada vez mais vulneráveis ao branqueamento e eventos de mortalidade massiva, devido ao aumento da temperatura dos mares e oceanos.
Para tentar salvá-los, cientistas e conservacionistas têm embarcado em missões de restauro dos recifes, tentando travar o declínio, numa verdadeira corrida contra o tempo.
Apesar do restauro ser visto como uma das melhores formas de impedir o desaparecimento dos recifes de coral, essas intervenções, da forma como hoje são feitas, podem não ser suficientes para consegui-lo.
Num artigo publicado esta semana na revista ‘Nature Ecology & Evolution’, um grupo de investigadores diz que “custos monetários massivos” associados a projetos de restauro de grande escala e a falta de coordenação entre diferentes intervenções não está a permitir alcançar os resultados pretendidos.
Ainda que reconheçam que as ações de restauro dos recifes de coral estejam a expandir-se por todo o mundo, os autores dizem também que a falta de financiamento, dificuldades logísticas e os efeitos das alterações climáticas estão a diminuir a eficácia dessas medidas.
Ao combinarem dados sobre intervenções de restauro com dados sobre condições ambientais, ecológicas e climáticas atuais e previstas para o futuro, os investigadores concluem que é preciso repensar a forma como se tem abordado o problema da recuperação dos recifes de coral.
O estudo estima que para recuperar apenas 10% dos recifes degradados a nível mundial são precisos, pelo menos, perto de 926 milhões de euros, um montante quatro vezes superior ao investimento total feito nos últimos 10 anos.
Por outro lado, mesmo quando as ações de restauro são implementadas com sucesso, podem, no final do dia, acabar por fracassar, uma vez que, de acordo com esta investigação, 57% dos recifes de coral restaurados sofrem eventos de branqueamento até cinco anos após a intervenção, deitando por terra todo o esforço e investimento feitos.
É por isso que os autores defendem que o restauro, para realmente ter sucesso e dar frutos a longo-prazo, tem inevitavelmente de ser acompanhado de medidas de redução drástica das emissões globais de gases com efeito de estufa, designadamente de dióxido de carbono, da expansão das áreas protegidas e da interdição de atividades destrutivas.
Outro dos problemas identificados por esta equipa de investigadores é o facto de muitos projetos de restauro tenderem a focar-se em recifes de coral aos quais seja mais fácil aceder, ao invés de naqueles que têm as melhores hipóteses de sobrevivência ou que mais precisam de intervenção.
Para que os restauro dos recifes de coral possa, realmente, ter efeitos positivos duradouros, é preciso estabelecer redes de colaboração globais entre cientistas, legisladores e comunidades locais, partilhar conhecimento e recursos e ter em consideração todos os fatores – ecológicos, climáticos e socioeconómicos – que afetam a sobrevivência desses ecossistemas.