Alterações climáticas agravam mortalidade em massa de espécies marinhas no Mediterrâneo



Entre 2016 e 2020, foram registados quase mil eventos de mortalidade em massa de várias espécies no Mar Mediterrâneo, devido a ondas de calor marinhas e ao aumento da temperatura atmosférica.

Um grupo de mais de 20 investigadores de seis países, incluindo Jean-Baptiste Ledoux, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto, publicou um artigo na revista ‘Nature Communications’ no qual alertam para os impactos das alterações climáticas na biodiversidade que vive no leito do Mediterrâneo, as chamadas espécies bentónicas.

Entre os grupos mais afetados estão os corais, as esponjas e as macroalgas, que estão a sofrer grandes perdas nas suas populações locais.

Com base em dados de eventos de mortalidade em massa ocorridos na região nos últimos 35 anos, os investigadores estimam que mais de metade resultaram em taxas de mortalidade acima dos 60%, sendo, por isso, considerados eventos de mortalidade severa, especialmente associados a ondas de calor marinhas.

Eventos de mortalidade em massa no Mar Mediterrâneo entre 1986 e 2020.
Fonte: Carlot et al., 2025

Ledoux, citado em comunicado, afirma que 85% desses eventos terão sido causados por “anomalias de temperatura”, que já provocaram declínios irreversíveis em várias espécies formadoras de habitats (como os corais e as esponjas) nos ecossistemas do Mediterrâneo.

A equipa percebeu que as espécies maiores, que demoram mais tempo a crescer e cujos corpos são compostos por calcário são as mais vulneráveis aos eventos de mortalidade massiva. E também verificou que esses fenómenos provocam a instabilidade do funcionamento dos ecossistemas, uma vez que são perdidas espécies que desempenhavam funções muito específicas e cujo nicho deixado vago não pode ser ocupado por qualquer outra espécie que exista nessa região.

“Consequentemente, assiste-se a uma perda desproporcionada de espécies com funções específicas, algumas estruturantes na formação de habitat como é o caso dos corais e as gorgónias, cujo colapso desencadeia efeitos em cascata em todas nas comunidades a elas associadas”, explicam os investigadores em comunicado.

Assim, à medida que o Mediterrâneo aquece, as comunidades de organismos bentónicos tornam-se cada vez mais vulneráveis, colocando em risco a própria biodiversidade e reduzindo a capacidade dos serviços prestados pelos ecossistemas, como o ciclo de nutrientes e o sequestro de carbono.

Olhando para esse mar no seu conjunto, que banha os continentes europeu, asiático e africano, os investigadores revelam que é na região ocidental, ao largo das costas mediterrânicas francesa e espanhola, que se observam os maiores impactos. Ainda assim, salientam que no Mediterrâneo central e oriental esses impactos já foram sentidos mais cedo do que na parte ocidental, pelo que os cientistas já não foram a tempo de registá-los.

“Este padrão espacial indica que as diferentes regiões do Mediterrâneo estão a sofrer alterações nos ecossistemas a ritmos diferentes, o que pode ter implicações significativas para as estratégias de conservação”, destaca-se em comunicado da Universidade do Porto, com os cientistas que assinam este estudo a alertarem para a “trajetória preocupante” que os ecossistemas do Mediterrâneo estão a seguir no quadro das alterações climáticas globais.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...