Alterações climáticas prejudicam desenvolvimento em África e agravam insegurança

As condições meteorológicas extremas e as alterações climáticas estão a intensificar a fome, a insegurança e as deslocações em África, prejudicando o desenvolvimento socioeconómico do continente, alertou hoje a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
No relatório sobre o “Estado do Clima em África 2024”, a OMM destaca os desafios para a agricultura, o ambiente, a segurança alimentar, hídrica, energética, da saúde e educação, mas salienta também como as novas tecnologias podem ajudar a enfrentar e atenuar estes fenómenos.
O calor extremo atingiu muitas regiões do continente em 2024, afetando a agricultura, a produtividade do trabalho e a educação, salientou a agência das Nações Unidas.
Segundo o estudo, as temperaturas da superfície do mar em todo o continente africano atingiram níveis recorde. Houve um aquecimento particularmente rápido no oceano Atlântico e no mar Mediterrâneo e as ondas de calor marítimas afetaram a maior área desde o início das medições, em 1993.
Muitas regiões de África, em 2024, receberam quantidades de precipitação inferiores ao normal, enquanto outras regiões tiveram totais de precipitação normais ou superiores ao normal, nomeadamente em Angola, indicou a OMM.
“Observou-se um excesso de precipitação em partes da região do Sahel, em muitas partes da África Central e Oriental, no nordeste de Madagáscar, nas Seychelles, em regiões das Comores e de Angola”, citou.
Na África Ocidental e Central existiram “inundações devastadoras que afetaram mais de quatro milhões de pessoas, causando várias centenas de vítimas e centenas de milhares de deslocações”. A Nigéria, o Níger, o Chade, os Camarões e a República Centro-Africana estão entre os países mais afetados, sinalizou.
Na África Oriental, as chuvas excecionalmente fortes e prolongadas de março a maio provocaram graves inundações no Quénia, na Tanzânia e no Burundi. Centenas de pessoas perderam a vida e mais de 700.000 foram afetadas, indicou.
No entanto, segundo a investigação, a precipitação local durante a estação de outubro a dezembro foi inferior ao esperado, o que suscitou preocupações em matéria de segurança alimentar.
De uma forma geral, a seca prolongada na África Austral provocada pelo El Niño levou a quebras de colheitas generalizadas, insegurança alimentar e desafios humanitários e ambientais significativos, em especial no Malaui, na Zâmbia e no Zimbabué, explicou.
O rendimento global dos cereais na África Austral foi 16% inferior à média de cinco anos e, no caso da Zâmbia e do Zimbabué, 43% e 50%, respetivamente.
A OMM citou ainda que os baixos níveis de água e a reduzida produção de energia hidroelétrica do Lago Kariba, a maior barragem artificial de África localizada entre a Zâmbia e o Zimbabué, provocaram cortes de energia prolongados e perturbações económicas.
O ciclone tropical Chido teve efeitos devastadores ao atingir Maiote (departamento francês no oceano Índico). Em seguida, o ciclone atingiu Moçambique e o Malaui, tendo provocado no país lusófono pelo menos 120 mortos, e afetou 450 mil pessoas e danificou “mais de 40% dos hospitais” locais, segundo o Fundo de População da Organização das Nações Unidas (UNFPA).
Em março, Moçambique foi atingido pela tempestade tropical Filipo na província de Inhambane, que causou dois mortos, afetou cerca de 48 mil pessoas, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Para a OMM, a inteligência artificial, as ferramentas de comunicação móvel e os modelos avançados de previsão meteorológica estão a melhorar a precisão e o alcance dos serviços meteorológicos em África.
No entanto, “uma maior expansão da transformação digital exige um maior investimento em infraestruturas, quadros de partilha de dados mais sólidos e uma prestação de serviços mais inclusiva”, alertou.
Na opinião da OMM, é necessário um maior sentido de urgência para melhorar os sistemas de alerta precoce e reforçar a resiliência e a adaptação ao clima.
No relatório insta-se, por isso, os governos, os parceiros de desenvolvimento e o setor privado a acelerarem o investimento em tecnologias em matéria de clima.