Ambientalistas assumem “grandes reservas” sobre dessalinizadora do Algarve
As organizações não-governamentais (ONG) Zero e Almargem dizem ter “grandes reservas” acerca do “real contributo do projeto para alcançar aqueles que são os seus grandes objetivos” da Estação de Dessalinização de Água do Mar que está planeada para o Algarve.
A consulta pública sobre o projeto, promovido pela Águas do Algarve e apoiado em 237 milhões de euros pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), tem como objetivo “garantir a resiliência do abastecimento público à população da região” e da “garantia da disponibilidade de água para os consumos atuais e futuros”.
Contudo, as ONG consideram que os contributos previstos da dessalinizadora, que se espera que introduza na rede de abastecimento público 12,5 milhões de metros cúbicos de água por ano, são anulados pelas “perdas reais” de mais de 13 milhões de metros cúbicos que se registam anualmente no Algarve.
Como tal, argumentam, em comunicado, que “estará assim em causa o cumprimento do objetivo de reforçar a resiliência hídrica do sistema de abastecimento do Algarve e de garantir as necessidades hídricas atuais e futuras do abastecimento público caso não exista um esforço efetivo para aumentar a eficiência das redes de abastecimento”.
Embora reconheçam que há planos para reduzir as perdas de água no setor urbano, com um valor de quase 44 milhões de euros para reabilitar o sistema de abastecimento e diminuir as perdas, a Zero e a Almargem avisam que as poupanças esperadas deverão rondar os 2 milhões de metros cúbicos de água, “o equivalente a pouco mais de 15% das atuais perdas reais do sistema, o que aparenta ser manifestamente insuficiente para justificar o investimento na dessalinização”.
Além disso, afirmam que “o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) não apresenta uma análise do impacto que os custos de produção da água dessalinizada terão sobre as tarifas imputadas aos consumidores finais e sobre o equilíbrio económico-financeiro das entidades gestoras dos serviços de abastecimento o que, considerando que a água dessalinizada poderá apresentar custos dez vezes superiores ao da água produzida de forma tradicional poderá agravar fortemente as tarifas a pagar pelos consumidores”.
E alertam que também que “o EIA não responde de forma inequívoca a questões relevantes sobre a compatibilidade com os seis objetivos ambientais abrangidos pelo Regulamento Taxonomia da União Europeia (Regulamento (UE) 2020/852), cujo cumprimento é critério essencial para ter acesso aos fundos europeus no âmbito do Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR), nomeadamente as respeitantes à mitigação das alterações climáticas e emissão de GEE e à proteção dos ecossistemas e da biodiversidade”.
O plano da dessalinizadora contempla a instalação de 10 mil painéis fotovoltaicos para o abastecimento energético da central, mas as organizações destacam que isso “apenas cobre 14% da energia necessária, sendo o restante da energia proveniente da rede pública, aumentando a demanda por energia e as emissões de GEE”.