Amigos para a vida: Chimpanzés e bonobos reconhecem membros do grupo que não veem há mais de 25 anos



Os chimpanzés (Pan troglodytes) e os bonobos (Pan paniscus) são os nossos parentes genéticos vivos mais próximos, e partilhamos com esses primatas cerca de 98% do nosso ADN. Por isso, alguns traços são também comuns às três espécies, como a cooperação, a formação de alianças, sociedades complexas e até a formação de amizades.

Agora, uma nova investigação revela que também temos algo em comum no que toca à capacidade para recordar caras que em tempos conhecemos. Num artigo divulgado na publicação online ‘PNAS’, cientistas sugerem que os chimpanzés e os bonobos reconhecem, em fotografias, as caras de conspecíficos que fizeram parte do seu grupo, mas que não veem há várias décadas.

Realizaram experiências que consistiram em mostrar a primatas em cativeiro conjuntos de duas fotografias: uma de um estranho que nunca antes viram e outra de um antigo membro do grupo. Através de um sistema não-invasivo de monitorização do movimento ocular, perceberam que o olhar do chimpanzé ou do bonobo se demorava mais na imagem do conhecido.

“Os chimpanzés e os bonobos reconhecem indivíduos mesmo que não os vejam há múltiplas décadas”, sentencia, em comunicado, Christopher Krupenye, da Universidade Johns Hopkins, um dos autores do artigo.

Além disso, a equipa conseguiu perceber que o olhar se detinha por mais tempo em fotos de antigos membros do grupo com os quais tinham relações mais positivas, de amizade. “Isso sugere que se trata de mais do que simples familiaridade, que eles se recordam de aspetos da qualidade dessas relações sociais”, diz o cientista.

Laura Lewis, a principal autora, afirma mesmo que os chimpanzés e os bonobos têm “mecanismos cognitivos que são muito semelhantes aos nossos, incluindo a memória”.

Um dos animais, uma bonobo chamada Louise, fica para a história como a memória social mais longeva que alguma vez foi registada num animal não-humano.

Contam os investigadores que Louise não via a sua irmã Loretta nem o seu sobrinho Erin há mais de 26 anos na altura em que a experiência ocorreu. Ainda assim, o sistema de monitorização ocular revelou que, quando lhe foram mostradas as fotografias dos outros dois bonobos, o seu olhar demorou-se significativamente nas caras dos seus familiares.

“Os resultados sugerem que a memória social dos grandes primatas pode durar mais de 26 anos, a maioria dos seus 40 a 60 anos de esperança média de vida, e poderá ser comparável à dos humanos”, explicam. A memória social dos humanos tende a começar a degradar-se após 15 anos de separação, mas “pode persistir até aos 48 anos”.

E destacam que “esta memória provavelmente terá criado as fundações para a evolução da cultura humana e permitido a emergência de formas de interação distintamente humanas, como o comércio entre grupos, onde as relações são mantidas mesmo depois de muitos anos de separação”.

Lewis reforça que “a ideia de que [os chimpanzés e os bonobos] lembram-se de outros e, por isso, podem sentir a falta desses indivíduos é realmente um poderoso mecanismo cognitivo e algo que tem sido considerado como unicamente humano”.

Embora reconheça que o estudo realizado não permite concluir sem sombra de dúvida que o que viram se trata realmente de recordar membros do mesmo grupo que não viam há muito tempo, a investigadora afirma que “levanta questões acerca da possibilidade de eles terem capacidade para fazê-lo”.





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