Ana Mineiro: O papel (do papel) no mundo
“APESAR DO PESO DA INTERNET, O PAPEL JÁ PROVOU QUE NÃO VAI SAIR DA MODA. Muito menos o simultaneamente elegante e rústico papel de flores, que encontramos em locais tão distantes como o Nepal, Myanmar, Moçambique ou Madagáscar.
Encontrei pequenas fábricas locais de papel de flores em Myanmar – vendiam sobretudo grandes folhas inteiras, e também sombrinhas – no Nepal, onde se fabricava tudo o que se pudesse vender a um turista, em Moçambique e também em Madagáscar, onde a oferta era mais reduzida, mas todo o processo se desenrolava num pátio, tornando mais fácil assistir a todas as fases do fabrico.
Em Myanmar, algumas flores de buganvília davam um toque lindíssimo às folhas brancas e enrugadas que saíam das telas de secagem. Mas a beleza não está só no produto final; está também no fabrico e na presença da história em cada passo da produção.
O papel foi inventado na China entre 206 A.C. a 220 D.C., e chegava à Europa pelas Rotas da Seda. Em Gilgit, na Estrada do Karakorum, Paquistão, há notícias do fabrico de papel desde o século VI, e em Samarcanda, no Uzebequistão, desde o século VIII. Na Europa, foi em Portugal e Espanha que a produção começou, no século X, pela mão da comunidade muçulmana; em 1400, Leiria assistia à primeira tentativa de mecanização do processo, através da utilização de um moinho movido a água.
Hoje, tal como dantes, as plantas são escolhidas, misturadas com água e cozidas até fazer uma pasta, que é pressionada com as mãos e maças de madeira contra tabuleiros gigantes de tela, que depois são postos a secar ao sol.
É nessa altura que se aplicam folhas, pétalas, flores inteiras, um toque de graça numa folha que será sempre grumosa e raiada de fibras como veias finas. Cada folha é única, e a sua graciosidade depende de quem a atende nesta altura, antes de ser cortada à mão e transformada no que se quer: um caderno, um álbum de fotografias ou, ainda melhor, um livro de receitas ou um diário de viagem…”
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Jornalista de viagem, Ana Isabel Mineiro já publicou em revistas portuguesas como a Grande Reportagem, Volta ao Mundo e Rotas & Destinos, e espanholas, como a Descubrir e a Altair. Neste momento dedica-se com igual interesse às viagens e à comida vegetariana, publicando regularmente as descobertas e curiosidades no site Comedores de Paisagem. É leitora do Green Savers e escreve regularmente aqui.