Antártida: Extensão de gelo marinho atinge mínimo dos últimos 45 anos
O gelo marinho na Antártida terá atingido a sua extensão máxima anual no passado dia 10 de setembro, com 16,96 milhões de quilómetros quadrados, que é também a mais reduzida desde que começaram os registos por satélite em 1979.
A informação é avançada pelo Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo (NSIDC), da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos da América, cujos investigadores dizem que a extensão máxima de 2023 fica mais de um milhão de quilómetros quadrados abaixo do último mínimo registado em 1986.
Os cientistas apontam que desde abril deste ano a extensão de gelo marinho na Antártida tem consistentemente ficado aquém do que seria de esperar, sendo que desde meados de agosto o crescimento da extensão gelada “desacelerou consideravelmente”, informa o NSIDC em comunicado.
E avisam que esta é a primeira vez que a extensão de gelo marinho no pólo sul do planeta fica abaixo dos 17 milhões de quilómetros quadrados.
Tudo indica que o aumento da temperatura superficial oceânica tem sido a causa da desaceleração da formação de gelo na Antártida ao longo dos últimos meses, e os investigadores confessam preocupação, pois “este pode ser o início de uma tendência de declínio a longo-prazo do gelo marinho da Antártida, uma vez que os oceanos estão a aquecer globalmente”.
Enquanto no Ártico, a perda de gelo marinho tem sido acentuada e consistente nos últimos anos, na Antártida os efeitos do aquecimento têm sido mais discretos. Contudo, a história agora é outra.
Num artigo publicado este mês da ‘Communications Earth & Environment’, os cientistas dizem que desde 2016 que a extensão de gelo marinho na Antártida tem quase todos os anos ficado abaixo da média, com consequências não apenas para o clima, mas também para a vida selvagem. No final do ano passado, quase 10 mil crias de pinguim-imperador morreram depois de o gelo no qual viviam ter derretido antes de terem desenvolvido a penugem impermeável que tê-las-ia salvado do afogamento.
“Embora durante muitos anos o gelo marinho na Antártida tenha aumentado apesar do aumento das temperaturas globais, parece que podemos estar agora a ver o declínio inevitável, projetado há muito pelos modelos climáticos”, escrevem os cientistas, acrescentando que “as implicações abrangentes da perda de gelo marinho na Antártida destacam a necessidade urgente de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa”.