Apoiar o crescimento da aquacultura portuguesa através do ensino superior



Por: Elisabete Matos, professora da Egas Moniz School of Health & Science

 

Portugal parece particularmente bem posicionado para acolher um crescimento significativo no setor da aquacultura. De facto, além de possuirmos a terceira maior Zona Económica Exclusiva da UE, temos sido exportadores de conhecimento científico neste setor nas últimas décadas, especialmente nas áreas da nutrição e zootecnologia. E, embora ainda se olhe para o setor com algum desconforto, os portugueses continuam a figurar entre os maiores consumidores mundiais, comendo cerca de 60 kg de pescado per capita anualmente.

Em termos na produção aquícola, na última década, observámos um aumento modesto, com a produção relatada passando de 9,5 em 2015 para aproximadamente 17 mil toneladas em 2020, principalmente devido a uma recolha de informação mais precisa, em vez de crescimento real. Neste sentido, o objetivo estratégico nacional para o período 2021-2030 visa aumentar e diversificar a oferta de produtos aquícolas nacionais, assente em princípios de sustentabilidade ambiental, coesão social, bem-estar animal, qualidade e segurança alimentar, de forma a atingir as 25 mil toneladas até 2030.

Mas porque é que a produção aquícola portuguesa ainda está muito aquém das previsões? A questão é multifacetada, sem “uma resposta”, e parece haver inúmeros gargalos. Poderíamos argumentar que o Atlântico é pouco adequado para os métodos de aquacultura convencionais, o que poderia ser superado investindo em tecnologias de ponta, com o apoio de modernos sistemas de produção 4.0. Contudo, talvez os investimentos necessários colocassem rapidamente os produtores em desvantagem competitiva quando comparados com outros países onde tais questões não são significativas, sendo que existe ainda a burocracia e a latência observada entre a intenção de desenvolver e a sua concretização.

Então, como minimizar as dores de crescimento do setor? A resposta pode estar no ensino superior. Acredito que uma educação completa é a chave para o sucesso, e a área da aquacultura não é exceção. Apesar de já existirem vários Mestrados em Aquacultura em Portugal e na Europa, a maioria dos recém-licenciados está mais apta para prosseguir uma carreira científica, sendo muito poucos os cursos que disponibilizam aos profissionais veterinários as ferramentas de apoio ao bem-estar animal, à qualidade alimentar e à segurança neste setor – razão pela qual se deve procurar formar profissionais capazes de responder às necessidades específicas do setor aquícola, contribuindo tanto para a melhoria da sustentabilidade da produção como para a Saúde, Segurança e Bem-Estar na Aquacultura. Isto será conseguido através de metodologias de ensino inovadoras que assentem num paradigma centrado no aluno intrinsecamente ligado à aprendizagem ativa, com práticas pedagógicas especificamente concebidas para apoiar o desenvolvimento da metacognição dos alunos. Além disso, os alunos devem ser envolvidos em atividades interativas de resolução de problemas, esperando-se que participem ativamente na sua própria avaliação, e tenham acesso a um vasto leque de ferramentas digitais de aprendizagem de última geração, com a promoção da inclusão digital dos alunos no ensino e aprendizagem presenciais e à distância a ser atingida por metodologias estabelecidas. Exemplo desta aposta que o ensino deve fazer numa aprendizagem 360 graus, a Egas Moniz School of Health & Science lançou recentemente um novo Mestrado em Aquacultura Sustentável, com duas especializações: Produção em Aquacultura Sustentável e Medicina em Aquacultura Sustentável.

Concluindo, o desenvolvimento sustentável da aquacultura em Portugal precisa de encontrar soluções que, de forma integrada, ultrapassem os principais constrangimentos que limitam o setor aquícola nacional, apoiando simultaneamente o desenvolvimento de uma aquacultura inteligente e ecológica, competitiva a nível global e que proporcione aos consumidores da União Europeia produtos seguros e de elevado valor nutricional. Neste sentido, é importante compreender que o ensino superior e as suas instituições têm um papel fundamental no apoio a esta transição e na mudança de paradigma que é necessária.

 





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