Aquecimento global pode agravar efeitos negativos dos pesticidas sobre as abelhas
Uma equipa de investigadores da London Imperial College, no Reino Unido, alerta que quanto maior for a temperatura, maiores serão também os impactos negativos causados pelos pesticidas sobre as abelhas, insetos polinizadores indispensáveis à polinização natural das culturas agrícolas. Calcula-se que, atualmente, cerca de 80% de todas as plantas que usamos na nossa alimentação estejam dependentes da ação dos polinizadores.
Num artigo publicado na revista ‘Global Change Biology’, os cientistas salientam que se considera que alguns pesticidas, especialmente os que pertencem à categoria dos neonicotinóides, podem afetar as populações de insetos e agravar os declínios populacionais, e defendem que eventos climáticos extremos, como ondas de calor, são fatores que influenciam os efeitos dos pesticidas.
Assim, quanto maior for a temperatura ambiente, mais nefastos serão os efeitos dos pesticidas sobre as abelhas.
Debruçando-se sobre o abelhão-terrestre (Bombus terrestres), os cientistas estudaram como essa espécie reage a dois tipos de pesticidas (imidacloprid e sulfoxaflor) a 21, a 27 e a 30 graus Celsius.
As experiências permitiram perceber que a 30 graus a distância percorrida pelos abelhões expostos ao neonicotinóide imidicloprid era substancialmente inferior à que era feita a temperaturas mais baixas. No entanto, mesmo a 21 graus, os cientistas observaram uma redução do movimento e do consumo de alimento. Quanto ao sulfoxaflor, os cientistas dizem não ter sido possível verificar quaisquer alterações no comportamento dos abelhões.
“Prevê-se que a frequência a que as abelhas estarão expostas a pesticidas e a temperaturas extremas no quadro das alterações climáticas seja cada vez maior”, avisa Richard Gill, principal autor do artigo. Por isso, argumenta que “o nosso trabalho pode ajudar a informar sobre as concentrações corretas e o tempo de aplicação dos pesticidas em diferentes regiões climáticas do mundo para ajudar a proteger os polinizadores, como as abelhas”.
Por sua vez, Daniel Kenna, outro dos coautores, afirma que “os nossos resultados mostram que o contexto ambiental é crucial para avaliar a toxicidade dos pesticidas, particularmente quando se pretende prever a resposta das abelhas num contexto futuro das alterações climáticas”.
Os investigadores escrevem que “o declínio das populações de insetos benéficos [como os polinizadores] é um problema a nível mundial, pelo que identificar as causas é uma prioridade da investigação científica e é crucial para o desenvolvimento de estratégias de mitigação”, recordando que vários estudos apontam a ampla utilização de pesticidas como um possível fator que está a afetar negativamente o desenvolvimento e o comportamento de alguns desses insetos.
No final de janeiro, a Comissão Europeia apresentou uma estratégia que visa travar o declínio dos polinizadores e reverter as perdas até 2030, reconhecendo que as perdas populacionais de polinizadores selvagens têm consequências ao nível da segurança alimentar, da saúde e qualidade de vida humanas e do funcionamento dos ecossistemas.
Estima-se que, pelo menos, cinco mil milhões de euros são gerados todos os anos pelo setor agrícola na UE por causa da ação dos polinizadores, e que, a nível global, entre 75% e 80% de todas as plantas usadas na alimentação humana dependem deles.
No entanto, uma em cada três espécies de abelhas, borboletas e de sirfídeos (também conhecidos como moscas-das-flores), todos polinizadores, estão hoje em declínio, sendo que 10% das espécies de abelhas e borboletas e 30% das espécies de sirfídeos estão mesmo ameaçadas de extinção.