Área Marinha de Cascais, Mafra e Sintra com potencial para ter “jardins de corais”



A futura área marinha de Cascais, Sintra e Mafra apresenta espécies que podem formar “jardins de corais” e de esponjas na zona do Cabo da Roca, ‘habitats’ protegidos, refere o relatório da expedição científica liderada pela Fundação Oceano Azul.

O sumário executivo do relatório científico da expedição marítima, a que a Lusa teve acesso, considera significativo a ocorrência de espécies que podem formar “jardins de corais”, nomeadamente gorgónias como a ‘Eunicella verrucosa’, classificada como uma espécie vulnerável pela IUCN e ‘Leptogorgia s.’, na zona do Cabo da Roca e a Sul, ‘habitats’ que são protegidos no âmbito da convenção OSPAR (mecanismo para proteger o ambiente marinho do Atlântico Nordeste) e também na lei portuguesa.

Junto ao Cabo da Roca “também se registaram aglomerações de esponjas (‘Cliona celata’) de grandes dimensões, sendo este tipo de ‘habitat’, “jardins de esponjas”, também listado pela convenção OSPAR”, aponta o documento.

Para inventariar as espécies pelágicas (que ocorrem na coluna de água, próximo da superfície) e bentónicas (que vivem no fundo) foram utilizadas câmaras de vídeo com dispositivos iscados, que atraem espécies difíceis de observar em mergulho.

Os dispositivos BRUV (do inglês Baited Remote Underwater Video) foram operados a partir de embarcações da pesca profissional e instalados junto ao fundo ou na coluna de água, recolhendo informação em 107 pontos entre Ericeira e Cascais, bem como na Montanha de Camões.

“Nas comunidades de macrofauna marinha demersal e bentónica foram identificadas 56 espécies de peixes, sendo as mais frequentes a garoupa (‘Serranus cabrilla’), o sargo-safia (‘Diplodus vulgaris’) e o carapau (‘Trachurus spp.’), que ocorreram maioritariamente nos substratos rochosos”, revela o relatório.

Nos ‘habitats’ móveis, as espécies mais comuns foram o carapau, o sargo-safia, e o tubarão pata-roxa (‘Scyliorhinus canicula’). “Foram ainda registadas espécies classificadas pela IUCN como a raia (‘Raja clavata’), com estatuto de ‘quase ameaçada’, e o cação (‘Mustelus mustelus’), ‘em perigo’”, acrescenta-se.

Nos peixes ósseos, destaque para o besugo (‘Pagellus bogaraveo’), com estatuto de conservação “quase ameaçado”, e o salmonete (‘Mullus surmuletus’), a abrótea (‘Phycis phycis’) e o peixe-galo (‘Zeus faber’).

Registaram-se ainda várias espécies com interesse comercial, como sargo, carapau, lírio (‘Seriola sp.’), cavala (‘Scomber colias’), ou atum (‘Thunnus sp.’).

O relatório destaca que, “em geral, a riqueza específica na Montanha de Camões foi significativamente superior à dos setores costeiros (Norte, Centro e Sul)” e que “entre as 10 espécies com maior biomassa na área de estudo, destacam-se as que formam cardumes”, como atum, lírio, carapau, sargo, canário-do-mar e judia, e “alguns predadores de topo demersais e bentónicos de hábitos solitários (‘Conger conger’, ‘Scyliorhinus canicula’, ‘Serranus cabrilla’)”.

Nos invertebrados, foram identificadas espécies com elevado interesse económico, como a navalheira, o polvo-comum, o choco e a lula (‘Loligo vulgaris’).

A caracterização do ambiente pelágico foi realizada “recorrendo a BRUV que derivaram com as correntes”, registando “330 indivíduos de nove espécies, incluindo o golfinho comum, o carapau, o biqueirão, a sarda, duas espécies de atuns, um crustáceo decápode, e o tubarão azul”.

A caracterização dos ‘habitats marinhos’ e a inventariação de espécies foi complementada com observações com recurso a um veículo operado remotamente (ROV), que fez “17 imersões, entre os 27 e 86 metros de profundidade, tendo sido percorridos mais de quatro quilómetros junto aos fundos marinhos”.

As imersões foram efetuadas em três zonas, Cabo da Roca, Baía de Cascais e Montanha de Camões, destacando-se cinco ‘habitats’ prioritários, no que respeita à proteção conforme a Diretiva Europeia Habitats, Convenção OSPAR e legislação portuguesa: “Recifes de Sabellaria”, “Florestas de Laminárias”, “Comunidades mistas de esponjas e corais”, “Comunidades mistas de esponjas e gorgónias” e “Jardim de gorgónias”.

Foram ainda realizadas amostragens dirigidas a aves e mamíferos marinhos, com observação de 20 espécies de aves marinhas distintas.

A expedição Oceano Azul – Cascais, Mafra e Sintra, que decorreu de 01 a 12 de outubro de 2022, foi promovida pelos municípios, em parceria com a Fundação Oceano Azul, no âmbito do processo de apoio à criação de uma Área Marinha Protegida de Iniciativa Comunitária.





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