Arquitectos portugueses ajudam a construir centro comunitário ecológico em Moçambique (com FOTOS)
Dois arquitectos portugueses dedicaram quase os últimos dois anos a construir um centro comunitário ecológico em Manica, Moçambique, em conjunto com a comunidade local. O projecto permitiu a inclusão de uma comunidade economicamente desfavorecida num processo de aprendizagem de construção com blocos de terra comprimidos que garante benefícios às pessoas e à natureza.
Segundo o Green Savers Moçambique, o projecto nasceu no âmbito do programa Football for Hope, patrocinado pela FIFA, que previu a construção de 20 centros comunitários e sociais em vários países de África – Moçambique foi um dos escolhidos.
Alina Jerónimo, 31 anos, e Paulo Carneiro, 32 anos, foram contratados para desenvolver e implementar o projecto no país. Os beneficiários do centro são 3.000 crianças e jovens de Manica que habitam numa zona economicamente desfavorecida e com alguns problemas sociais e ambientais resultantes da grande incidência de malária e VIH e da desflorestação e consequente erosão dos solos, que diminui as possibilidades de cultivo.
A dupla portuguesa optou por apostar em técnicas ecológicas e de inclusão da comunidade local no projecto. “A reacção dos habitantes foi óptima e surpreendente – acolheram-nos muito bem durante todo o processo e foram muito participativos”, explica Alina ao Green Savers.
Para evitar a desflorestação – com vista à produção artesanal de tijolos de barro cozidos –, a equipa optou por introduzir Blocos de Terra Comprimidos Estabilizados (BTCE), não cozidos. Os BTCE foram produzidos no local, aproveitando os materiais locais – como a terra, o bambu e a areia.
“Foi essencial envolver desde o início a comunidade local, desde o processo de concepção do edifício até à fase de construção, para que o novo centro surgisse identificado com esta comunidade e fosse assim melhor utilizado e integrado”, revela Alina.
A concepção dos tijolos ecológicos permitiu criar postos de trabalho e preservar os recursos naturais. Para além de servirem à construção do centro, daqui para a frente vão também funcionar como uma fonte de rendimento para a comunidade e para o desenvolvimento de outras infra-estruturas.
“A produção dos tijolos e a sua aplicação na construção do edifício foi um processo pedagógico para que a comunidade compreendesse soluções locais para diminuir o impacto ambiental, aumentando a sua iniciativa social.”
O projecto teve início em Agosto de 2011 e terminou em Abril de 2013. Ao todo, foram formadas 55 pessoas e produzidos 22.600 tijolos. Foram empregadas oito pessoas, responsáveis por monitorizar e produzir os mesmos tijolos para venda pública e para construção da associação comunitária. Quatro artesãos de bambu ficaram encarregues de produzir tectos falsos, candeeiros e sombreamento. Foram ainda reutilizados 85 metros de carris metálicos que se encontravam ao abandono.
O resultado é um edifício com uma área útil de 200 m2 e um campo de jogos de 800 m2. Paralelamente foram plantadas 72 árvores indígenas.
A gestão do espaço está agora a cargo da associação comunitária local – o Grupo Desportivo de Manica. “A associação continuará a ser acompanhada e avaliada nos próximos três anos, seguindo um programa de actividades estudadas para lhes permitir fontes de rendimento que atinjam a autonomia e autogestão”, explica a arquitecta.
Não foi destruída qualquer árvore com vista à produção de tijolos do centro comunitário, assegura Alina. Na verdade, foi mesmo evitado o abatimento de cerca de 400 árvores, utilizadas normalmente para a produção de tijolos artesanais.
Fotos: Alina + Paulo Fernandes