Arquitetos moçambicanos querem reduzir impacto do clima nas infraestruturas
Os arquitetos moçambicanos querem contribuir para reduzir o impacto das mudanças climáticas nas infraestruturas do país, assunto que pretendem discutir no primeiro congresso da ordem daquela classe profissional, a realizar na próxima semana, em Maputo.
“O grande objetivo que queremos atingir é que se possa trazer ao congresso a questão das mudanças climáticas (…), que possamos refletir de uma forma aberta e sistematizada como é que podemos sofrer menos com os impactos das mudanças”, disse Anselmo Cani, secretário-geral da Ordem dos Arquitetos de Moçambique (OARQ), em entrevista à Lusa.
O congresso da OARQ vai realizar-se nos dias 08 e 09 de fevereiro, sob o lema “Resiliência do edificado e desafios da prática profissional”, evento que deverá contar com a participação de profissionais da área moçambicanos e estrangeiros, além de especialistas em assuntos ligados ao clima.
Entre os convidados estão o ministro das Obras Públicas de Moçambique, o embaixador da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento e a ativista moçambicana Graça Machel.
Para Anselmo Cani, o congresso é uma oportunidade para que “em conjunto” se debatam “caminhos” para melhorar a resiliência de Moçambique às alterações do clima, reconhecendo, entretanto, que “nunca mais se vai conseguir chegar ao ponto zero dos impactos”. Mas importa “reduzir os danos”, referiu.
Os danos, avançou Cani, podem ser reduzidos a partir da melhoria do ordenamento territorial, edificação de cidades sustentáveis, que se adequem ao clima e que possam “resistir aos abalos”.
“É claro que isso não vai acontecer numa reunião de um dia, mas acreditamos nós que só esta campanha que estamos a fazer [é um começo], levantando a bandeira e dizendo que nós os arquitetos e urbanistas estamos aqui para ajudar, dê-nos mais voz porque também podemos contribuir para este processo da mitigação das mudanças climáticas”, referiu o secretário-geral.
O primeiro congresso dos arquitetos vai decorrer enquanto Moçambique está em plena época chuvosa, que desde outubro já causou pelo menos 69 mortes, destruiu total e parcialmente 3.702 casas, 177 salas de aula e afetou 60 escolas e 14 unidades de saúde, segundos os últimos dados oficiais.
No evento, os arquitetos vão também falar sobre os seus desafios, entre os quais consta a legislação para o exercício da profissão e proliferação de falsos técnicos que, segundo a ordem, prejudicam sobretudo o Estado.
“Nós estamos muito otimistas de que este congresso vai ter um impacto positivo”, concluiu o secretário-geral da OARQ.
A Ordem dos Arquitetos de Moçambique foi criada há seis anos e conta com cerca de 350 profissionais inscritos.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.