Árvores finlandesas que morrem e renascem estarão no Imaginarius com plantas para comer



A companhia finlandesa Lumo vai estrear no Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira um espetáculo com troncos de “árvores Keto”, que permitem produzir uma farinha que custa 170 euros por quilo.

Esses são alguns dos aspetos na base da performance “Phloem” (termo inglês para “Floema”), que, resultando de uma encomenda pela direção do referido evento do distrito de Aveiro e Área Metropolitana do Porto, combinará gastronomia com circo contemporâneo, artes mediáticas, luz e som – sempre com exibições gratuitas às 22:00 de quinta, sexta e sábado no jardim da Biblioteca Municipal, mediante reserva prévia de lugares.

O conceito já foi ensaiado no Imaginarius Centro de Criação, onde a diretora artística da Lumo esteve em residência artística, e combinará em palco duas gamas de adereços vegetais: uma seleção de urtigas, dente-de-leão, funcho selvagem e outras ervas silvestres recolhidas na Feira e preparadas durante o próprio espetáculo, para dar a provar à plateia durante a exibição; e troncos das chamadas “árvores Keto”, transportados por estrada desde a Finlândia para funcionarem como cenário – inclusive como mesa onde se servirá a arte culinária da performance.

A particularidade dessas árvores é o seu ciclo de vida, que lhes confere o estatuto de “únicas no mundo”, como explica Hanna Misala à Lusa: “Elas podem viver a primeira vez por 300 a 400 anos e depois morrem por 30 a 50. É aí que se transformam numa árvore Keto – dura, cinzenta – que se mantém de pé por mais 300 a 400 anos”.

As árvores escolhidas para Santa Maria da Feira foram “cuidadosamente selecionadas e todas têm um significado diferente” no espetáculo, já que “umas foram usadas só para produzir floema, outras serão utilizadas para fazer sons e outras funcionarão como aparelhos aéreos” para acrobacias dos performers.

Quanto à culinária do espetáculo (que era um dos requisitos da chamada artística lançada pela direção do festival, para valorizar o estatuto da Feira como Cidade Criativa da UNESCO no domínio da gastronomia), Hanna Maisala antecipa: “A comida que vamos provar é o coração da árvore, o seu floema”.

A artista revela que, na Finlândia, a chamada “farinha de floema” é tradicionalmente acrescentada à farinha branca como ingrediente para fabrico de pão, dada a sua capacidade de “enchimento”, valorizada sobretudo em tempos de guerra e períodos de fome.

“O património associado à produção de farinha de floema já quase desapareceu na atualidade e agora é super difícil encontrá-la, pelo que se tornou um produto de luxo que custa 170 euros por quilo”, realça Hanna Maisala. “Mas nós conseguimos produzir alguma dessa farinha a partir de pinheiros que trouxemos do nosso país e encontrámos uma pessoa em Portugal que conseguiu fabricar mais para usarmos no espetáculo”, adianta a artista.

Todos esses aspetos sobre as árvores keto e o seu floema vão combinar-se ainda com sons de folhagem e ramos, do estalar de troncos e com relatos humanos na voz real não apenas de finlandeses, mas também de cidadãos do Reino Unido, onde a companhia já atuou, e de Portugal, graças a gravações no Museu de Santa Maria de Lamas, onde a companhia também esteve em residência artística.

O objetivo é que todos esses elementos possam “refletir a vida de uma árvore ao longo de centenas de anos”, numa metáfora sobre fragilidade e renovação – mesmo quando todo o trabalho “progride rumo à escuridão”.

“Fundir gastronomia e arte aprofunda o simbolismo de elementos naturais como a madeira e preparar os alimentos cria uma nova ligação aos ciclos da natureza”, refere Hanna Maisala, defendendo que desses gestos sobressai assim “a possibilidade de esperança” e a consciência de que “a vida continua, apesar da sua fragilidade”.






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