As áreas selvagens estão em declínio rápido e a UNESCO pode protegê-las



A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) acaba de apresentar um novo relatório que lança um apelo à Convenção para a protecção do Património Mundial da UNESCO para conservar melhor as áreas selvagens do planeta, cada vez mais ameaçadas, pelas alterações climáticas e não só.

Segundo a IUCN, esse objectivo só será alcançado através dos mecanismos existentes, mas identifica lacunas na classificação de novos locais património mundial natural e sugere inovações para ajudar a World Heritage Convention a responder melhor às ameaças a essas regiões selvagens.

Estamos a falar de paisagens terrestres e marinhas, em grande parte ainda intactas, com baixa densidade populacional humana e na sua maioria livres de infra-estrutura industrial, que prestam um contributo crucial na luta contra as alterações climáticas, armazenando enormes quantidades de carbono e servindo de refúgio para espécies que são forçadas a migrar. Muitas delas também fornecem meios de subsistência às comunidades locais e são culturalmente significativas, hospedando locais naturais sagrados e territórios indígenas. No entanto, estas áreas também estão sob forte ameaça. São cada vez maiores os casos de desmatamento e de actividades industriais como a prospecção e extracção de petróleo e gás, mineração, exploração madeireira, agricultura, construção de estradas e barragens.

Uma séria advertência, já que as áreas selvagens cobrem actualmente menos de um quarto da superfície terrestre total.

“Temos uma obrigação ética de respeitar a vida na Terra e proteger as últimas áreas intactas e selvagens deixadas no planeta como uma parte crucial do nosso património comum”, diz Cyril Kormos, director do programa da IUCN para o Património Mundial no comunicado agora divulgado. “As áreas selvagens fornecem soluções para desafios globais, como mudanças climáticas e perda de biodiversidade, e a protecção dessas áreas também pode ajudar a reconhecer os direitos das comunidades. A Convenção pode ir mais longe para apoiar esses lugares inestimáveis​​”, conclui.

O relatório intitulado “Património Mundial, Natureza Selvagem e Grandes Paisagens e Paisagens Marinhas” argumenta ainda que a protecção de grandes paisagens marinhas e terrestres intactas é uma estratégia crucial para enfrentar a mudança climática e a perda de biodiversidade, já que essas áreas insubstituíveis proporcionam maiores benefícios e hospedam mais plantas e animais.

Não há dúvidas que a World Heritage Convention contribui de forma significativa para a conservação de tais áreas de forma eficaz. Os locais naturais classificados pela UNESCO geralmente incluem áreas muito amplas: os 238 sites actualmente listados para seus valores naturais representam 8% da superfície total coberta por todas as 200 mil áreas protegidas do mundo. Mas há muitos locais de fora desta classificação. As florestas de coníferas tropicais e subtropicais, por exemplo, são o tipo de região selvagem menos representada pela lista do Património Mundial. E em locais como o oceano Árctico, a maior área selvagem marinha identificada pelo relatório, com 3,3 milhões de quilómetros quadrados, apenas o Sistema Natural da Reserva da Ilha Wrangel na Rússia está classificado.

Outra das orientações fornecidas por este relatório diz respeito aos direitos dos povos indígenas e ao seu papel na conservação destes locais. Para ilustrar a relação complexa entre humanos e locais Património Mundial, a orientação apresenta estudos de cinco casos específicos: as Montanhas Douradas da Altai na Rússia, o Parque Nacional Kakadu na Austrália, o Parque Nacional Manú no Peru, o Delta do Okavango no Botswana e Papahānaumokuākea em Hawai’i, EUA.

Resta dizer que este relatório foi preparado ao longo de vários anos por uma equipa de especialistas da IUCN e sua Comissão Mundial de Áreas Protegidas, com o apoio do The Christensen Fund e The Pew Charitable Trusts. E que a própria IUCN é o órgão consultivo oficial sobre a natureza para a Convenção para a Protecção do Património Mundial, cujo comité se reúne em Cracóvia, na Polónia, de 2 a 12 de Julho. Ou seja, na próxima semana serão apresentadas todas estas recomendações relativas a locais já classificados pela UNESCO e 13 novas propostas de inscrições.

Foto: Parque Nacional Kakadu na Austrália (via Creative Commons)





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