As galinhas de quintal na Austrália vieram para ficar



As galinhas têm sido um dos pilares dos quintais australianos há várias gerações. Uma nova investigação da Universidade de Adelaide revela que os proprietários veem as suas galinhas como uma mistura entre animal de estimação e de criação, bem como uma fonte fiável de alimentos.

As galinhas têm sido um dos pilares dos quintais australianos há várias gerações. Uma nova investigação da Universidade de Adelaide revela que os proprietários veem as suas galinhas como uma mistura entre animal de estimação e de criação, bem como uma fonte fiável de alimentos.

“A nossa investigação indicou que as galinhas de quintal são vistas como animais de companhia e como fonte de alimento, inserindo-se num espaço híbrido de relações entre humanos e animais”, explica Emily Buddle da Escola de Humanidades da Universidade de Adelaide.

“Eles esbatem a linha entre o que tradicionalmente chamamos de gado e um animal de companhia ou animal de estimação”, acrescenta.

Buddle conduziu o estudo, publicado na revista Anthrozoös, juntamente com a Professora Rachel Ankeny da Universidade de Wageningen, Kristen Stevens da Universidade da Austrália do Sul e Heather Bray da Universidade da Austrália Ocidental.

Enquanto outras tradições de quintal, como a produção de leite em casa e a criação de porcos, diminuíram, a galinha de quintal resistiu ao teste do tempo. O estudo fornece uma nova perspetiva sobre as motivações, a ética e as perceções que envolvem as galinhas de quintal na Austrália.

“As galinhas fazem parte dos quintais australianos há muito tempo, constituindo uma fonte de alimentos, outrora destinados à panela de sopa, e através do fornecimento de ovos, bem como uma forma de reciclar os restos de cozinha”, afirma Buddle.

Apesar disso, os participantes expressaram que os seus galináceos tinham personalidades distintas e caraterísticas de animais de estimação, proporcionando frequentemente companhia. Os participantes não vegetarianos indicaram que, embora comam carne, não matariam nem comeriam as suas próprias galinhas.

Independentemente da ligação emocional, as galinhas não recebiam o mesmo nível de cuidados que os animais de companhia mais tradicionais, como os gatos e os cães.

“Uma descoberta surpreendente foi o facto de, apesar de serem animais de companhia adorados, ser pouco provável que a maioria dos participantes levasse as suas galinhas ao veterinário”, afirma  Buddle.

“Não conseguiam justificar os custos veterinários em relação ao valor monetário da galinha”.

Com base em entrevistas qualitativas com 44 proprietários de galinhas de quintal em Adelaide, o estudo revelou que uma das principais motivações para a criação de galinhas era a sua utilidade.

“As galinhas oferecem um fornecimento contínuo de ovos frescos de uma fonte conhecida e fiável”, afirma Buddle.

“Era claro para os participantes que as suas galinhas eram ‘definitivamente criadas ao ar livre’, evitando a confusão e a controvérsia associadas às normas australianas para os ovos criados ao ar livre”, adianta.

Buddle explica que pesquisas anteriores do grupo mostraram que as pessoas preferem ovos caipiras porque eles são vistos como “mais naturais”, éticos e seguros. O aumento do número de galinhas criadas em quintais realça a desconfiança nos sistemas alimentares comerciais.

Afirma ainda que a sua investigação tem implicações políticas para a biossegurança e o bem-estar dos animais, em particular devido à falta de atenção veterinária que as galinhas de quintal recebem.

“Apesar das recentes mudanças nos regulamentos do conselho, escassez de alimentos (particularmente através da pandemia COVID-19) e preocupações crescentes sobre os padrões de produção de aves ao ar livre, não havia nenhuma pesquisa conduzida antes disso para entender o que motiva as pessoas a manter os frangos em seu quintal”, sublinha Buddle.

“ A nossa investigação mostrou a necessidade de mais investigação para compreender a desconfiança das pessoas no sistema alimentar, particularmente com o duopólio dos supermercados na Austrália, e as diversas formas como as pessoas enfrentam estes desafios”, conclui.





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