Associação denuncia venda de dezenas de tartarugas para consumo em Cabo Verde
A associação ambientalista Projecto Vitó detetou a venda ilegal de mais de 20 tartarugas, espécie protegida, nos últimos três meses na ilha do Fogo, em Cabo Verde, destinada sobretudo a consumo humano, referiu ontem o diretor executivo à Lusa.
“Já ultrapassámos as 20 capturas identificadas, provavelmente o número é muito superior, porque só contabilizámos os registos de capturas de que temos provas”, disse Herculano Dinis.
A época de desova de tartarugas, em que a espécie se desloca para as praias do arquipélago para fazer os seus ninhos, decorre de junho a novembro e deixa-a exposta à caça, que continua a ser uma prática relatada em várias ilhas.
Durante a época de desova, diversas associações mobilizam-se para proteger as tartarugas e Herculano Dinis referiu que, no caso da área abrangida pelo Projecto Vitó, a captura está a ser o grande problema.
Na ilha do Fogo, “há muito consumo de carne de tartaruga, especialmente por emigrantes” cabo-verdianos que regressam à terra natal para férias e a encomendam às comunidades locais, explicou à Lusa.
A carne de tartaruga tem sido vendida para consumo a um preço entre 400 a 500 escudos cabo-verdianos (3,6 a 4,5 euros) por cada quilo e o crime é habitualmente justificado com o facto de representar um rendimento acrescido.
A associação tem feito uma “forte campanha” de sensibilização e educação ambiental nas comunidades, indicou Herculano Dinis.
Há uma mudança no comportamento, disse, destacando que a maioria das denúncias de captura de tartarugas é feita pelas comunidades.
“Há muitas pessoas que já estão extremamente sensibilizadas, especialmente a nova geração. Temos um programa de voluntariado que conta com quase 100 voluntários que colaboram permanentemente na fiscalização das praias”, salientou aquele responsável.
Há um programa designado Guardiões do Mar que envolve pescadores na conservação, em parceria com as autoridades, entre outras ações, mas, “infelizmente, todo esse esforço não tem sido suficiente e estamos a registar várias modalidades de captura, nomeadamente através do mergulho com tiro de arpão”, avançou.
Aquele tipo de caça agrava a captura feita nas praias onde as tartarugas fazem a desova.
Quatro suspeitos já foram detidos nesta época, mas sem responsabilização, referiu.
“Apelo às autoridades judiciais para terem celeridade no julgamento deste tipo de crime, porque há um sentido de falta de punição. As pessoas acabam por ficar um ou dois dias na esquadra, depois são libertadas” e “quando são presentes a tribunal”, o processo demora “muito tempo”.
“Por vezes termina a temporada e as pessoas não tiveram uma punição”, sublinhou.
A associação ambientalista Projecto Vitó começou a trabalhar há 13 anos na conservação e preservação de espécies na ilha do Fogo.
Nesta época de nidificação de tartarugas (de junho a novembro), a instituição já registou mais de 500 ninhos nas praias da ilha.
Atualmente, a associação colabora com ações em cinco das dez ilhas de Cabo Verde e em oito áreas protegidas do país.
Cabo Verde introduziu legislação para proteger as tartarugas marinhas pela primeira vez em 1987, proibindo a sua captura em épocas de desova.
A lei prevê outros tipos de crime desde 2018, nomeadamente o abate intencional, bem como a comercialização, transporte e consumo.
Três ilhas do arquipélago – Sal, Boa Vista e Maio – acolhem 95% da nidificação que ocorre no arquipélago, enquanto Santiago e o resto das ilhas representam 5%.