Associações industriais estão a bloquear ações para travar a perda de biodiversidade, denuncia relatório



Associações industriais que representam setores-chave e algumas das maiores empresas do mundo estarão a tentar atrasar, diluir ou reverter políticas que ajudem a prevenir e a reverter a perda de diversidade biológica na União Europeia e nos Estados Unidos.

O alerta é feito pelo grupo de reflexão climático InfluenceMap, que no seu mais recente relatório ‘A influência da indústria nas políticas de biodiversidade’ denuncia que essas associações representativas “opõem-se a quase todas as principais políticas e regulamentos sobre a biodiversidade” e que cerca de 89% da sua atuação junto de órgãos legislativos tem como objetivo “bloquear o progresso na resposta à perda de biodiversidade”. A análise informa que apenas 5% da influência dessas associações pretende, realmente, travar os ataques à diversidade biológica.

O estudo centrou-se nas associações que representam cinco principais setores: pesca, agricultura, floresta e papel, petróleo e gás, e extração mineira, que, de resto, são as atividades que mais impactos negativos têm sobre a biodiversidade.

“A perda de biodiversidade devido à atividade humana está a ocorrer globalmente a um nível sem precedentes e mais rapidamente do que em qualquer outra altura na História humana”, alerta a InfluenceMap, que salienta que “apesar do aumento da consciencialização sobre a crise da biodiversidade, o mundo falhou em alcançar todas as metas estabelecidas pelas Nações Unidas para a biodiversidade para a última década”.

Este relatório é conhecido nas antevésperas da realização da COP15, a conferência mundial sobre a biodiversidade que este ano se realiza em Montreal, no Canadá, e onde se espera que os vários governos de todo o mundo acordem novas metas até 2030, mais ambiciosas, para estancar a perda da diversidade biológica causada pela ação humana.

Reconhecendo como exemplos positivos a definição da Estratégia 2030 para a Biodiversidade da UE e os esforços do governo norte-americano de Joe Biden para reverter a desregulação promovida por Donald Tump, os especialistas afirmam que esse trabalho tem sido “recebido com resistência de setores que sentem que podem ser negativamente impactados”.

Entre as empresas que são membros das associações analisadas por este estudo estão nomes como Amazon, Apple, Microsoft, Toyota, Samsung e JPMorgan Chase. Os autores avançam que o relatório baseia-se somente em posições tomadas por essas associações e não tem em conta as visões de cada uma das empresas associadas, tendo várias delas já assumido publicamente compromissos para com a proteção do ambiente e da biodiversidade.

Algumas das associações analisadas, que funcionam como grupos de pressão ou lóbis, têm procurado, por exemplo, enfraquecer as regulações sobre a comercialização e utilização de pesticidas na agricultura. E têm afirmado que a guerra da Rússia contra a Ucrânia tem agudizado as pressões sobre os setores que representam e que a legislação para proteção da biodiversidade será mais um fator que impactará negativamente os negócios. Contudo, a análise sugere que muitas das associações já tinham posicionamentos semelhantes antes da guerra.

“Apesar de as associações industriais, especialmente nos EUA, parecerem relutantes em discutir a crise da biodiversidade, estão claramente envolvidas numa grande conjunto de políticas com impactos significativos ao nível da perda de biodiversidade”, explica a InfluenceMap.

Rebecca Vaughan, da secção de Finanças Sustentáveis da organização, aponta que o Instituto Americano do Petróleo tem sido uma das associações industriais mais ativas nos EUA no que toca à desproteção de espécies, “tendo feito lóbi contra a proteção de numerosas espécies, incluindo abelhas, focas e ursos polares”.

A responsável argumenta que “a nossa nova investigação desvenda uma área de lóbi que tem passado largamente despercebida”.





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