Aumentar espaços verdes em Barcelona pode “reduzir consideravelmente” problemas de saúde mental
Que o contacto com a Natureza tem significativos impactos positivos na saúde mental é já amplamente conhecido, e são também já vários os estudos científicos que demonstram que passar, pelo menos, duas horas por semana em ambientes naturais ajuda a combater a depressão e a ansiedade.
Agora, investigadores do Instituto para a Saúde Global (ISGlobal), em Barcelona, defendem que criar corredores verdes nessa cidade de Espanha poderá “reduzir consideravelmente” os casos de problemas de saúde mental na população de residentes adultos e, ao mesmo tempo, reduzir também os custos associados às respostas a esses distúrbios.
Num artigo publicado esta semana na revista ‘Environmental International’, os especialistas apontam que estima-se que, atualmente, mais de 30% dos custos globais relacionados com doenças sejam gerados por problemas de saúde mental, e argumentam que o contacto com espaços verdes pode ser uma forma de atenuá-los, seja porque ajuda reduzir a exposição à poluição, porque reduz a ansiedade, ou porque promove a atividade física e as interações sociais.
Este trabalho é uma análise do projeto da autarquia de Barcelona para instalar ‘eixos verdes’ por toda a cidade, uma intervenção que arrancou em agosto do ano passado e que deverá estar concluída no próximo mês de abril. Por agora, o projeto está ser implementado, sobretudo, no centro da cidade, embora o objetivo seja transformar em corredores verdes uma em cada três ruas de Barcelona.
O ISGlobal estima que esse projeto tem o potencial para aumentar em 5,7% a superfície verde da cidade, reduzir em 13% as visitas dos residentes a profissionais de saúde mental, em 13% o uso de antidepressivos, em 8% o consumo de tranquilizantes e ansiolíticos, e em 14% os casos de problemas relacionados com a saúde mental. E os autores do artigo estimam ainda que deverá ser possível poupar 45 milhões de euros por ano em custos diretos e indiretos com a saúde mental.
“Barcelona tem um problema que precisa urgentemente de ser resolvido”, afirma Natalie Mueller, investigadora do ISGlobal e uma das autoras, pois “apenas 11% da cidade está atualmente alocada a espaços verdes”, sendo que a maioria da área coberta de vegetação (60%) está concentrada no parque de Collserola.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cada habitação deve estar no máximo a 300 metros de uma área verde com, pelo menos, 500 metros quadrados. Contudo, como afirma Evelise Pereira, outra das autoras do artigo, “apenas 20% das população de Barcelona vive atualmente em locais que correspondem à recomendação da OMS”, algo que, na sua perspetiva, “mostra que há ainda muito trabalho a fazer para tornar as nossas cidades mais verdes”.
Apesar de este estudo em particular se debruçar somente sobre Barcelona, os resultados obtidos podem ser transferidos para outras cidades. Mark Nieuwenhuijsen, que esteve também envolvido na investigação, argumenta que “qualquer ação em qualquer cidade que resulte num aumento dos espaços verdes perto das casas das pessoas deverá gerar melhorias ao nível da saúde mental da população”.
Mas para que esses benefícios possam, verdadeiramente, tornar-se realidade, o especialista aponta que é necessário que as intervenções que visem a expansão das áreas verdes urbanas sejam “equitativamente distribuídas por toda a cidade e acompanhadas de políticas complementares”, tais como transportes públicos de qualidade, zonas de emissões reduzidas e medidas “para prevenir a especulação [imobiliária] e a gentrificação”.