Aumento contínuo da despesa militar global ameaça descarrilar desenvolvimento sustentável

No ano passado, a despesa militar a nível global atingiu os 2,7 biliões de dólares, um aumento de 9% face a 2023 e o mais alto desde os tempos da Guerra Fria. A tendência de reforço do investimento na militarização estão a pôr em risco ao futuro da humanidade ao desviar fundos que deveriam estar a ser canalizados para a paz e o desenvolvimento sustentável.
A conclusão é de um relatório divulgado recentemente pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, o qual prevê que, a manter-se essa trajetória, a despesa militar global poderá chegar aos 6,6 biliões de dólares em 2035. Esse valor anual seria quase cinco vezes mais elevado do que o que se registava em 1991, nos últimos dias da Guerra Fria, e mais do dobro do que se investiu em 2024.
“Enquanto a segurança global continua a deteriorar-se apesar deste investimento crescente, esta trajetória ascendente também coincide com um atraso dramático no progresso em direção ao alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e com uma marcada deterioração do ambiente”, diz, em comunicado a ONU.
Segundo o relatório, a assistência global ao desenvolvimento caiu 7,1% em 2024, sendo que existe atualmente uma lacuna de cerca de quatro biliões de dólares no financiamento necessário.
“Neste momento crítico, a comunidade internacional tem de confrontar a dura realidade de que o aumento das despesas militares não está a trazer mais paz, mas sim a enfraquecer a nossa visão partilhada para um futuro sustentável”, avisa Guterres.
O relatório apresenta também uma série de recomendações que têm como objetivo atenuar a tendência de crescimento das despesas militares a nível global em prol da concretização do desenvolvimento sustentável.
Entre elas, estão a priorização, até 2030, da diplomacia, da resolução pacífica de conflitos e de medidas para responder às causas do aumento do investimento militar, a promoção da transparência das despesas militares para criar confiança entre os Estados-membros e o reforço do quadro multilateral de financiamento para o desenvolvimento.
Leonie Hopgood, do Gabinete de Assuntos de Desarmamento da ONU, recorda que há uma década que as despesas militares a nível global estão a aumentar continuamente e que isso “deixa menos dinheiro para acabar com a fome, a pobreza e a desigualdade, e menos dinheiro para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”.
A especialista aponta que reinvestir 15% da despesa militar global “é mais do que suficiente para cobrir os custos anuais da adaptação climática em países em desenvolvimento”.
“A verdadeira segurança não é alcançada através das armas. É alcançada através da educação, de cuidados de saúde e de um ambiente limpo”, declara.