Aumento da pressão do pastoreio ameaça as áreas de pastagem mais secas, revela estudo



O pastoreio é a base dos modos de sustento de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo, tendo por isso grande relevância social e económica, mas também ambiental, considerando que é uma atividade com um impacto direto no solo.

Agora, um novo estudo publicado esta semana na revista ‘Science’ revela que o aumento da pressão do pastoreio está a ameaçar as pastagens nas regiões mais secas do planeta.

A equipa de mais de uma centena de investigadores inclui cientistas do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Universidade de Lisboa, e analisou 326 terras secas em 25 países de seis continentes.

O trabalho permitiu perceber que, apesar de o pastoreio poder ter, realmente, impactos positivos nos ecossistemas de zonas frias e com uma grande diversidade de espécies de plantas, passa a ser prejudicial em climas com temperaturas mais elevadas e com menor diversidade vegetal.

Assim, em zonas de pastagem mais secas regista-se uma maior erosão do solo, que acaba por ter uma menor capacidade para armazenar carbono. E os autores perceberam também que existem “relações positivas” entre a diversidade de espécies de plantas e os serviços prestados pelos ecossistemas, tal como o armazenamento de carbono e o controlo da erosão.

Fernando Maestre, investigador da Universidade de Alicante e o principal autor do artigo, explica que “usámos protocolos padronizados para avaliar os impactos do aumento da carga de pastoreio na capacidade das zonas secas de prestar nove serviços essenciais do ecossistema, entre os quais se incluem a fertilidade do solo, a produção de forragem/madeira e a regulação climática”.

Essa abordagem permitiu “caracterizar de que forma os impactos do pastoreio são dependentes das condições climáticas, do solo e da vegetação características de cada local, e adquirir informação adicional sobre o papel da biodiversidade na provisão de serviços do ecossistema, essenciais para a subsistência do Homem”, explica.

Já Helena Castro, da Universidade de Coimbra, destaca que “o impacto do pastoreio varia em função da combinação das condições edafoclimáticas (relativo aos solos e ao clima) e da diversidade da vegetação, o que torna importante ter em consideração as condições de cada zona árida na definição de planos de gestão do pastoreio e pastagens”.

Investigadores do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, em trabalho de campo.

Por isso, Alexandra Rodríguez, da mesma instituição, considera que “este estudo é particularmente relevante para Portugal, onde as terras secas, em grande parte destinadas ao pastoreio, já representam mais de um terço do seu território, mas ocuparão muito mais no futuro, devido às alterações climáticas”.

Para Alice Nunes, da Universidade de Lisboa, salienta que “estes resultados sublinham a importância de gerir o pastoreio localmente”, para que seja possível uma melhor adaptação às alterações climáticas, “uma questão particularmente importante nos montados que estudámos em Portugal”.

A mesma investigadora portuguesa assinala que a redução dos serviços pelo ‘sobrepastoreio’ é reflexo da sua degradação, acelerada “por um clima em mudança e cada vez mais árido” e pela perda de biodiversidade.

Também Melanie Köbel, da Universidade de Lisboa, considera que o estudo destaca “a importância de conservar e restaurar as comunidades vegetais para prevenir a degradação do solo, assegurar a prestação de serviços de ecossistema essenciais para os seres humanos e mitigar as alterações climáticas nas zonas áridas”.

Todos estes mais de 100 cientistas consideram que os resultados da investigação fornecem informações de grande relevância para a criação e implementação de políticas para uma gestão mais adequada e sustentável da atividade de pastoreio, bem como para medidas que promovam o restauro e a adaptação dessas zonas aos efeitos das alterações climáticas e à ameaça de desertificação.





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