Baleias-de-bossa têm olhos grandes mas não veem muito bem à distância

Com grandes olhos vem uma grande visão. Poderíamos pensar que assim era, mas a realidade é bem diferente. Apesar de terem olhos do tamanho de laranjas, as baleias-de-bossa (Megaptera novaeangliae) parecem sofrer de uma espécie de miopia.
Cientistas das universidades de North Carolina em Wilmington e de Duke (ambas no estado norte-americano da Carolina do Norte) descobriram que essas baleias só conseguem discernir detalhes de objetos a uma distância três ou quatro vezes superior ao comprimento do seu corpo. Por exemplo, um adulto que meça 15 metros só conseguirá perceber ao certo o que tem à sua frente se estiver a menos de 60 metros desse objeto.
Assim, e com base em análises à anatomia e aos tecidos dos olhos de baleias-de-bossa, os cientistas calculam que esses grandes cetáceos têm uma acuidade visual de apenas 3,95 ciclos por grau. Veja-se, por exemplo, que os humanos têm uma acuidade visual que se situa algures entre os 60 e os 70 ciclos por grau. Estima-se que a águia-audaz (Aquila audax), uma ave de rapina da Austrália e da Nova Guiné, chega aos 138 ciclos por grau.

Foto: Michael Spencer/UNCW
Esta equipa de investigadores, que publicou as descobertas na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, considera que compreender como funciona a visão das baleias-de-bossa, e de outros animais, é fundamental, especialmente para mitigar ameaças como o enredamento em artes de pesca. Não conseguindo detetar pormenores à distância, as baleias-de-bossa não conseguem também perceber que nadam em direção a redes nas quais podem ficar presas, podendo resultar em morte por afogamento, pois as baleias, como mamíferos que são, precisam de ar para sobreviver.
Podemos pensar que uma visão fraca, em comparação com outros animais, como nós, pode colocar as baleias-de-bossa em desvantagem, mas o facto é que para elas a capacidade de ver detalhes de pouco serve. Essas baleias, tal como outras da família dos cetáceos sem dentes, alimentam-se sobretudo de krill e de pequenos peixes que formam cardumes, pelo que distinguir apenas grandes formas difusas chega perfeitamente para saberem onde estão as presas, não havendo necessidade para uma visão mais precisa.
No entanto, para distinguirem redes de pesca, não é uma grande ajuda e pode colocá-las em perigo. Por isso, os investigadores esperam que o conhecimento sobre a visão das baleias-de-bossa possa impulsionar novos designs de redes de pesca que sejam mais visíveis para esses animais, e outros, a fim de se reduzir as mortes por enredamento.