Baleias estão a ingerir 10 milhões de microplásticos todos os dias, alerta estudo



A baleia-azul (Balaenoptera musculus), podendo chegar até aos 30 metros de comprimento, é o maior animal do planeta, e está atualmente em perigo, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), devido, principalmente, à deterioração dos ecossistemas marinhos de que depende. Contudo, outra ameaça é agora revelada: a poluição por plástico.

Um grupo de cientistas de universidades e centros de investigação nos Estados Unidos descobriram que várias espécies de baleias estão a ingerir diariamente grandes quantidades de microplásticos, partículas de material sintético do tamanho de grãos de areia. Ao analisarem baleias-comuns (Balaenoptera physalus), baleias-de-bossa (Megaptera novaeangliae) e baleias-azuis, perceberam que essas últimas são as que mais microplásticos ingerem, até 10 milhões de pedaços por dia.

Num artigo publicado na revista ‘Nature’, os cientistas apontam que as baleias que mais se alimentam dos pequenos crustáceos conhecidos como krill, tal como a baleia-azul, são as que mais expostas estão à ingestão desses materiais. “Só há uma ligação: o krill come o plástico, e depois as baleias comem o krill”, argumenta Matthew Savoca, da Universidade de Stanford e um dos autores.

Por outro lado, no que toca às baleias-de-bossa que se alimentam mais de peixes, como anchovas e arenques, do que de krill, ingerem menos quantidades de microplásticos, perto de 200 mil pedaços diariamente. Os indivíduos dessa espécie que comem mais krill do que peixe, tendem a ingerir, pelo menos, um milhão de pedaços por dia.

A respeito das baleias-comuns, cujo regime alimentar inclui tanto peixes como krill, os cientistas estimam que esses animais ingiram entre três e 10 milhões de microplásticos todos os dias.

Explicando que os níveis de ingestão dessas partículas de material sintético são maiores em baleias que se alimentam em regiões mais poluídas, como o Mar Mediterrânico, os cientistas argumentam que a quase totalidade dos microplásticos ingeridos pelas baleias vêm das presas, e não, como se poderia pensar, das quantidades massivas de águas que esses gigantes marinhos ingerem quando, com as grandes bocas escancaradas, se lançam sobre as bolas de krill e de peixes.

Shirel Kahane-Rapport, outra cientista envolvida na investigação, alerta que o que descobriram é motivo de preocupação. “É preciso investigar mais para perceber se o krill que consome microplásticos produzem menos óleos ricos, e se os peixes poderão ter menos carne, ser menos gordos”, pois a ingestão de microplásticos dá a essas animais, que são a base da alimentação das baleias, uma sensação enganadora de saciação.

Isso significa que, ao dependerem de presas menos nutritivas, a saúde das próprias baleias poderá ficar em risco. “É o mesmo que estar a treinar para uma maratona e comer apenas gomas”, aponta Kahane-Rapport.

No artigo, os cientistas assinalam que, para espécies que ainda lutam por recuperar os grandes números perdidos para a caça de que foram alvo no passado, embora ainda hoje sejam, mas em menor escala, “as nossas descobertas sugerem que os impactos cumulativos de múltiplos fatores de stress exigem mais atenção”.

“Grandes animais que se alimentam por filtração [muitas baleias possuem barbas no interior da boca que lhes permitem expelir água e aprisionar peixes e krill] evoluíram para processar e filtrar grandes porções do oceano”, afirma outro dos autores, Jeremy Goldbogen, pelo que acabam por desempenhar o papel de “sentinelas para alterações ambientais”, como a poluição por microplásticos.

Ainda é necessário mais trabalho para perceber de que forma a ingestão de microplásticos está a afetar as baleias, mas os cientistas acreditam que essas partículas de material sintético possam estar a danificar os estômagos desses mamíferos marinhos, e podem estar a ser absorvidos pela corrente sanguínea ou, talvez, acabem por deixar o organismo. “Ainda não sabemos”, confessa Kahane-Rapport.





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