Bem-estar humano num planeta finito até 2100



O estudo revisto por pares, The Earth4All Scenarios: Human Wellbeing on a Finite Planet Towards 2100, utiliza uma abordagem de modelização baseada na dinâmica de sistemas para explorar dois cenários futuros: Demasiado Pouco, Demasiado Tarde e o Salto Gigante. O modelo apresentado no documento fornece a base científica para a análise e as recomendações políticas de Earth for All: Um Guia de Sobrevivência para a Humanidade, publicado em 2022.

As conclusões do modelo mostram que, nas atuais condições de “manutenção do status quo” a humanidade corre o risco de deslizar gradualmente para ruturas cada vez mais graves: um mundo cada vez mais cinzento e fragmentado.

No entanto, o cenário do Salto Gigante demonstra que ainda existe uma janela de oportunidade para uma ação global que inverta as tendências de declínio do bem-estar, mantenha o aquecimento global abaixo dos 2°C, reduza a desigualdade e crie as condições para uma prosperidade sustentada ao longo do século.

O estudo identifica cinco “reviravoltas extraordinárias” que, se realizadas em simultâneo, poderiam alterar fundamentalmente a trajetória da humanidade: acabar com a pobreza, reduzir a desigualdade, dar poder às mulheres e transformar os sistemas alimentares e energéticos mundiais. “Extraordinária” refere-se a uma mudança substancial nos investimentos em relação às quatro décadas anteriores.

O autor principal, Per Espen Stokens, da BI Norwegian Business School, afirma: “Colocámos uma questão simples mas urgente: pode o bem-estar humano melhorar ao mesmo tempo que se reduzem as pressões sobre os limites do planeta? O nosso modelo diz que sim – mas apenas se fizermos estas mudanças através de alterações decisivas nas nossas políticas económicas atuais”.

Uma inovação fundamental do estudo é a introdução de dois novos índices: tensão social e bem-estar. Isto permitiu aos investigadores modelar não só as interações complexas entre os fatores económicos e ambientais nos dois cenários, mas também incluir ciclos de feedback social que captam a confiança, o investimento público e a capacidade política.

Os resultados da modelação sugerem que o aumento da desigualdade e da degradação ambiental alimenta as tensões sociais que, por sua vez, reduzem a capacidade dos governos para implementar as políticas de longo prazo necessárias para enfrentar os riscos existenciais associados às alterações climáticas e a outros limites planetários.

“Ao integrarmos um índice de tensão social e um índice de bem-estar, conseguimos realçar a importância da dinâmica social nos cenários climáticos”, explica a coautora Nathalie Spittler da Universidade BOKU. “Atingir os objetivos climáticos não é apenas uma questão de desenvolvimento tecnológico e económico. Se o bem-estar diminuir e as tensões sociais aumentarem, cria-se um ciclo de feedback negativo em que as condições necessárias para uma mudança transformadora se tornam mais difíceis de alcançar.”

Por outro lado, o estudo sugere que as ações para reduzir a desigualdade e aumentar a coesão social e o bem-estar são fundamentais se os governos quiserem implementar mudanças políticas em matéria de clima e outras questões globais.

O estudo destaca a velocidade e a escala de ação necessárias para garantir o bem-estar de todos num planeta habitável até 2100. “O cenário do Salto Gigante mostra que temos um caminho tecnicamente plausível, mas ambicioso”, comenta Per Espen Stoknes. “Exige um nível de cooperação internacional e de liderança política que ainda não vimos, mas uma tal mudança política pode ainda assim proporcionar um futuro próspero para a humanidade num planeta estável”, conclui.






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