Biodiversidade em risco na maioria das florestas tropicais



Uma nova investigação revelou que menos de um quarto das florestas tropicais remanescentes em todo o mundo pode proteger da extinção milhares de espécies ameaçadas.

A investigação, da qual é coautor o Professor James Watson, da Universidade de Queensland, avaliou a disponibilidade global de florestas tropicais minimamente perturbadas e estruturalmente intactas para mais de 16 000 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios.

“Utilizando a deteção remota e indicadores de integridade florestal, analisámos a qualidade das florestas tropicais em toda a área de distribuição dos vertebrados dependentes da floresta”, afirma o Professor Watson”, sublinhando que, “globalmente, até 90 por cento da cobertura florestal ainda se mantém nas áreas de distribuição destas espécies, mas apenas 25 por cento é de alta qualidade, o que é um fator crítico na redução do risco de extinção”.

“Sabíamos que as florestas tropicais de alta integridade eram vitais para a biodiversidade, mas ninguém tinha quantificado o quão limitados estes habitats-chave se tornaram”, acrescenta, explicando que “a nossa investigação mostra que as florestas tropicais estruturalmente intactas – que são essenciais para muitas espécies dependentes da floresta – são alarmantemente raras, particularmente nas regiões mais afetadas pelas pressões humanas, como o abate de árvores e o desenvolvimento de infraestruturas.”

O estudo também revelou contrastes na qualidade do habitat com base no estado de conservação das diferentes espécies.

“Apenas 8% do habitat da floresta tropical para espécies classificadas como ameaçadas ou com populações em declínio é de elevada integridade”, revela Watson, acrescentando que, “em comparação, as espécies não ameaçadas têm áreas com cerca de 25% de habitat de floresta tropical de alta integridade, destacando como a degradação do habitat afeta desproporcionalmente as espécies já em risco.”

O pássaro dourado (Prionodura newtonia), que está classificado como tendo uma população decrescente nos trópicos húmidos de Queensland, foi incluído no estudo, que concluiu que, embora 84% do seu habitat permaneça, apenas 36% são florestas tropicais de elevada integridade.

Rajeev Pillay, da University of Northern British Columbia, que liderou a investigação, afirma que os resultados apontam para a necessidade urgente de estratégias de conservação que vão para além da preservação do coberto florestal, mantendo a qualidade da floresta.

“A simples existência de coberto florestal não é suficiente se a complexidade estrutural e a baixa perturbação humana necessárias para a biodiversidade desaparecerem”, explica Pillay.

“Para proteger as florestas tropicais de alta integridade que restam, é fundamental uma coordenação global para minimizar a perturbação humana, especialmente nas florestas não protegidas que continuam a ser vitais para a biodiversidade”.

“Dado que os objetivos internacionais de conservação colocam a tónica na integridade dos ecossistemas, este estudo fornece uma base de referência fundamental”.

“A proteção das florestas tropicais de elevada integridade é essencial para cumprir os objetivos da Convenção sobre a Diversidade Biológica para 2030 e para evitar uma maior perda de biodiversidade”.

“À medida que as pressões humanas continuam a aumentar, a preservação destas florestas remanescentes pode ser a melhor esperança para garantir um futuro sustentável para a biodiversidade do planeta”, conclui.

A investigação foi publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.






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