Bivalves que se incrustam nas rochas são mais diversos do que os seus parentes que andam ‘à deriva’



Os bivalves, moluscos que protegem os seus corpos invertebrados e frágeis com duas conchas unidas por uma ‘dobradiça’, podem, aos olhos de muitos de nós, não ser muito interessantes e todos iguais. Além de isso ser uma noção que está longe da verdade, os bivalves, uma das classes do filo Mollusca, apresentam uma grande diversidade, especialmente entre os que se fixam nas rochas e os que, por outro lado, habitam o leito oceânico.

Os bivalves, além de serem importantes elementos de várias teias tróficas, sustentando múltiplas populações de espécies predadoras, podem ser também considerados ‘purificadores’ dos mares, pois filtram a água para retirar pequenos organismos dos quais se alimentam, libertando-a de partículas e tornando-a mais limpa.

No que toca aos que se fixam nas rochas, conhecidos como endolíticos, esses bivalves segregam substâncias que dissolvem os sedimentos ou usam força mecânica para quebrar as pedras, por exemplo, friccionando a sua concha até desfazer o material rochoso.

Sendo uma tarefa que exige bastante energia, os cientistas pensavam que a fixação nas rochas exigia que esses bivalves tivessem desenvolvido conchas especializadas, promovendo uma reduzida diversidade de formas. No entanto, uma investigação recente vem provar precisamente o contrário. Os bivalves que se fixam nas rochas apresentam um leque variado de formas de conchas, uma diversidade ainda maior do que entre os bivalves que não usam as rochas como ‘ancoradouro’.

Katie Collins, curadora do departamento de moluscos bentónicos do Museu de História Natural de Londres e principal autora do artigo publicado hoje na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, explica, em comunicado, que a equipa tinha inicialmente pensado que “os moluscos que de fixam nas rochas teriam convergido para um leque reduzido de formas” especialmente desenvolvidas para esse estilo de vida mais sedentário.

O que descobriram foi, de facto, precisamente o oposto. “Os bivalves que se fixam nas rochas têm o maior leque de formas de entre os seus parentes”, salienta, desde formas esféricas até formatos mais alongados e cilíndricos, como charutos.

É essa grande diversidade morfológica que leva a cientista a declarar que não parece existir um forma ótima no que toca às conchas destes bivalves endolíticos.

Os autores detalham que a fixação nas rochas rem várias vantagens para o animal. Desde logo, fornecem proteção contra predadores, pois é muito difícil extraí-los da rocha. Por outro lado, em período de tempestade e de grande agitação marítima, por exemplo, podem manter-se no mesmo local e não ser arrastados pelas fortes correntes submarinas.

A investigação permitiu também perceber que os bivalves podem transitar de um modo de vida ‘à deriva’ para um fixo nas rochas, mas que o processo inverso são poderá acontecer, pelo que consideram que a adoção do sedentarismo é um ‘beco sem saída evolucionário’.

Apenas os moluscos bivalves da família Teredinidae parecem ter a capacidade para fazer o caminho inverso, passar da fixação em rochas para a fixação noutros materias, como a madeira. E a espécie Lithoredo abatanica é mesmo a única que se conhece que é capaz, depois de transitar do modo fixo para o modo ‘à deriva’, de voltar à fixação.

Se a fixação nas rochas fornece tantas vantagens, por que razão é que nem todos os bivalves evoluíram essa capacidade? Os investigadores respondem a esta questão de forma muito simples: não há rochas suficientes no fundo do mar para suportar populações massivas de bivalves fixadores. Por isso, outras espécies desses moluscos marinhos evoluíram de forma a ocupar outros nichos ecológicos marinhos onde possam vingar sem uma competição feroz.





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