Brasil pede apoio internacional para a COP na Amazónia e cita “momento complexo” do multilateralismo



O Brasil pediu hoje à comunidade internacional que apoie a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30), que irá decorrer em novembro na Amazónia, num “momento complexo” e com o multilateralismo “enfraquecido” por decisões do Presidente dos Estados Unidos.

“Queremos convidar toda a comunidade internacional a abraçar as negociações e reagir para estruturar a melhor agenda possível”, porque “o Brasil não pode fazer isso sozinho”, disse numa conferência de imprensa o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, que acontecerá na cidade brasileira de Belém, no Pará.

O diplomata insistiu que a decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa “enfraquece o multilateralismo”, mas garantiu que “a esmagadora maioria” dos países do mundo “acredita firmemente” que as negociações globais são “a única maneira” de combater as mudanças climáticas.

Corrêa do Lago também apresentou uma carta da presidência da COP30 endereçada à comunidade internacional, que destaca a necessidade de todos os países, organizações multilaterais e a própria sociedade civil participarem do processo de negociação da COP30.

O documento destaca que o mundo iniciou o ano de 2025 com a confirmação de que 2024 foi o ano mais quente já registado globalmente e o primeiro em que a temperatura média global ultrapassou 1,5 graus celsius acima de níveis pré-industriais.

“A COP30 será, portanto, a primeira a ocorrer indiscutivelmente no epicentro da crise climática e a primeira a ser sediada na Amazónia, um dos ecossistemas mais vitais do planeta e que, de acordo com os cientistas, agora corre o risco de chegar a um ponto de inflexão irreversível”, lê-se no documento.

“Há muito tempo conhecemos a escala e a gravidade da mudança do clima e seus crescentes impactos. Afirmamos e reafirmamos que o aquecimento global é uma ameaça existencial à humanidade (…) A mudança do clima não está mais contida na ciência e no direito internacional. Ela chegou à nossa porta, atingindo nossos ecossistemas, cidades e vidas quotidianas”, acrescentou.

A carta também reconheceu que nas COP, onde cerca de 200 países discutem a cada ano durante duas semanas para negociar textos que no final acabam por ser considerados muito abstratos pela população em geral e destacou a necessidade de se colocar em prática os acordos firmados pelos países.

“Em vista da urgência climática, precisamos de uma ‘nova era’ para além das negociações: devemos ajudar a colocar em prática o que foi acordado”, destacou o documento.

O diplomata brasileiro disse a jornalistas que os organizadores da COP30 pretendem fazer o melhor que for possível “para vincular a abstração dessas negociações e as decisões da COP à vida real. Porque às vezes há uma certa perceção de que essas coisas não trazem os resultados necessários” e destacou que um dos desafios da COP30 será conseguir uma conexão com a sociedade civil para “informar sobre como essas negociações afetam todas as sociedades do mundo” e “superar a perceção de que elas são algo abstrato e desconectado da vida real”.

Corrêa do Lago também reconheceu que entre os aspetos mais complicados das negociações na COP30 está um acordo sobre o aumento da ajuda aos países em desenvolvimento que se comprometam a manter as suas florestas, como contribuição ao combate às mudanças climáticas globais.

Esse financiamento, fornecido pelos países mais ricos, foi estabelecido em 300 mil milhões de dólares (277,1 mil milhões de euros) por ano na COP29, realizada no final do ano passado em Baku, no Azerbaijão, mas foi considerado insuficiente pela maioria da comunidade internacional e organizações não-governamentais.

O presidente da COP30 informou que um dos objetivos das negociações é alcançar o consenso necessário para que esse financiamento chegue a cerca de 1,3 biliões de dólares (1,2 biliões de euros) até 2035.





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