Cães e lobos usam a memória para descobrirem comida que viram a ser escondida
Quem convive com cães está familiarizado com a inteligência singular daquele que é considerado ‘o melhor amigo do Homem’. Uma nova investigação científica vem agora atestar que a memória dos canídeos, incluindo o lobo, permite-lhes descobrir comida que tenha sido escondida pelos humanos.
Cientistas da Universidade de Medicina Veterinária de Viena quiseram perceber se para encontrarem comida escondida os canídeos usavam apenas o olfato ou se recorriam a uma outra faculdade. Através do estudo de nove lobos e oito cães assilvestrados que residem no Centro de Ciência Lupina, em Ernsbrunn, na Áustria, concluíram que os animais eram mais eficientes em encontrar comida escondida se primeiro tivessem vistos os humanos a escondê-la.
Num artigo publicado esta semana na revista ‘PLOS One’, os investigadores dizem que isso evidencia que os animais não dependem apenas do faro para encontrar o alimento, mas também do que descrevem como memória espacial observacional, uma capacidade que permite aos animais recordarem o local onde a comida foi escondida.
Ainda assim, os lobos foram mais rápidos e percorreram distâncias menores para detetarem a comida escondida. Os cientistas acreditam que tal não se deverá a uma maior capacidade de memória espacial observacional, mas sim a outros traços mais fortemente desenvolvidos, como a persistência e a motivação para encontrarem o alimento.
Nos casos em que não viram a comida a ser escondida pelos investigadores, os animais demoraram mais tempo a encontrá-la, fazendo um maior uso do faro do que da memória.
Mas essa capacidade para recordar o local onde comida tenha sido escondida não é apenas relevante neste contexto experimental. Vários animais, como os lobos, tendem a esconder alimentos, para os protegerem de membros da mesma espécie ou para mascararem o odor da caça.
Como tal, ao se lembrarem onde o vizinho escondeu o petisco, lobos e cães podem aumentar a probabilidade de conseguirem comer sem grande esforço.
Dado que quer os cães quer os lobos demonstraram sucesso idêntico na localização da comida que viram a ser escondida, os investigadores argumentam que o processo de domesticação a que o cão foi sujeito ao longo de milhares de anos não fez desaparecer a capacidade de memória espacial observacional, pois quer os cães quer os lobos exibiram desempenhos semelhantes. Por isso, sugerem que essa capacidade “é ancestral e não foi influenciada pelo processo de domesticação”.