Calor extremo está a causar devastação nas populações de aves tropicais



Eventos climáticos extremos, como as ondas de calor, são uma ameaça para muitas espécies pelo mundo fora, e as aves não são exceção.

Lembrando que esses fenómenos estão a tornar-se mais intensos e frequentes, devido às alterações climáticas provocadas pelas atividades humanas, um trio de cientistas descobriu que o calor extremo está a ter um impacto “especialmente severo” nas aves que vivem nas regiões tropicais.

Num artigo publicado esta semana na revista ‘Nature Ecology & Evolution’, estimam que desde 1950 as populações de aves tropicais foram reduzidas entre 25% e 38%. E avisam que não se trata de um declínio meramente temporário, mas sim de “um efeito de longo-prazo e cumulativo que continua a crescer à medida que o planeta aquece”.

E as perdas populacionais acontecem até em florestas tropicais remotas e praticamente intocadas pelos humanos, pelo que os autores alertam que é urgente reduzir as emissões de gases com efeito de estufa “para conservar a biodiversidade que resta”.

As conclusões têm por base a análise de dados de monitorização de mais de três mil populações de aves em todo o mundo, recolhidos nas últimas sete décadas, totalizando mais de 90 mil observações científicas.

Ainda que reconheçam a existência de falhas no conhecimento atual, especialmente a escassez de dados sobre determinadas partes do planeta, os investigadores dizem que o conjunto de dados fornece uma perspetiva única sobre como as populações de aves foram alterando ao longo do tempo.

Ao combinar os registos sobre as populações de aves com dados climáticos, a equipa conseguiu perceber como os animais respondem a alterações nas temperaturas e na precipitação, incluindo eventos de calor extremo.

“As aves em regiões tropicais estão a experienciar agora dias perigosamente quentes com uma frequência cerca de 10 vezes superior à que enfrentavam no passado”, explicam, em comunicado, os investigadores.

Embora alterações na temperatura média e nos níveis de precipitação afetem as aves, os cientistas consideram que o calor extremo é a maior das ameaças, especialmente para as aves tropicais.

O perigo é ainda maior, porque essas aves tendem a ter territórios pequenos e a dependerem de habitats e condições climáticas específicas.

“O nosso estudo descobriu que, nas áreas tropicais, o impacto das alterações climáticas nas aves é, talvez, ainda maior agora do que o impacto direto de atividades humanas, como extração de madeira, mineração ou agricultura”, sublinham.

“Isto não significa que a destruição de habitats devido a essas atividades não é um problema sério”, ressalvam os investigadores, acrescentando que “isso é claramente uma grande preocupação para a biodiversidade tropical”.

O trio de cientistas considera que, no que toca especificamente ao estudo das populações de aves tropicais, é importante que os estudiosos não se foquem apenas em tendências climáticas médias, mas também em eventos extremos. Isto, porque, como dizem, “as ondas de calor já não são incidentes raros e isolados. Estão a tornar-se parte integrante da vida em muitas partes do mundo”.

Se as alterações climáticas continuarem a avançar sem freio, como tem acontecido, as ameaças às aves que vivem nas regiões tropicais, e muitos outros animais e plantas, verão a sua sobrevivência em risco. As alterações ambientais estão a acontecer de forma tão rápida e drástica que muitas espécies não conseguirão adaptar-se a tempo.

Considerando que as regiões tropicais são focos de biodiversidade e albergam quase metade de todas as espécies de aves do planeta, os efeitos do calor extremo podem ter impactos muito mais devastadores do que possamos pensar.

Por isso, estes cientistas dizem que proteger os habitats naturais face ao avanço do desenvolvimento humano já não é suficiente para proteger as espécies. É preciso, sustentam, implementar no terreno medidas proativas que ajudem as espécies a adaptar-se às alterações climáticas.

“Em última instância, para protegermos a biodiversidade global, é essencial desacelerar e eventualmente reverter as alterações climáticas. Isso significa cortas nas emissões de gases com efeito de estufa, investir em formas de diminuir os atuais níveis de dióxido de carbono e apoiar políticas que reduzam o nosso impacto no planeta”, avisam estes cientistas.

“O futuro das aves tropicais – e de incontáveis outras espécies – depende disso”, sentenciam.






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