Câmara de Coimbra deixou de usar glifosato mas juntas aplicam-no em casos pontuais
A Câmara de Coimbra decidiu deixar de usar o glifosato no início do mandato, decisão que saiu reforçada depois um inquérito informal à população, mas várias juntas de freguesia continuam a aplicar aquele herbicida em casos pontuais.
No início do mandato, em 2021, a Câmara de Coimbra, liderada por José Manuel Silva, deixou de utilizar glifosato na limpeza de espaços públicos e passeios, decisão que viria a ser novamente confirmada em outubro deste ano, após um inquérito informal em que 97% das pessoas rejeitaram o regresso do uso daquele herbicida.
No entanto, várias juntas de freguesia do concelho contactadas pela agência Lusa admitiram que, apesar de evitarem utilizar o glifosato, recorrem a este herbicida em situações pontuais, escudando-se na autonomia face às decisões da Câmara de Coimbra.
Na reunião do executivo, na segunda-feira, a vereadora do PS Raquel Santos notou que, apesar de a Câmara de Coimbra ter determinado o fim do uso do glifosato, um munícipe encontrou, no início do mês, um aviso da União de Freguesias de Coimbra sobre a aplicação de produtos fitofarmacêuticos nos passeios.
A vereadora socialista exigiu um “esclarecimento cabal”.
Na resposta, José Manuel Silva explicou que “as juntas de freguesia têm autonomia para tomarem as suas próprias decisões”, salientando que nos locais cuja limpeza é da responsabilidade do município não é aplicado glifosato, com a autarquia a continuar “ativamente à procura” de meios alternativos.
Questionado pela agência Lusa, o presidente da União de Freguesias de Coimbra, João Francisco Campos, referiu que a junta recorreu este ano a fitofarmacêuticos “pela primeira vez em sete anos”, face a um ano atípico, com períodos intercalados de chuva e sol que potenciaram um crescimento mais rápido de ervas.
“Nunca colocámos antes e não gostamos de colocar, mas eu tenho 28 homens a trabalhar na rua e não conseguimos dar resposta a todas as necessidades”, salientou, referindo que, para o efeito, foi contratada uma empresa certificada para a aplicação daquele herbicida.
João Francisco Campos disse que espera não voltar a ter de recorrer ao glifosato, mas não promete que tal não possa acontecer, caso as condições climáticas assim o exijam.
Também o presidente da União de Freguesias de Eiras e São Paulo de Frades, Luís Correia, referiu que aquela junta também já teve de aplicar aquele herbicida, “focado em apenas alguns arruamentos e com os devidos cuidados”.
“Tentámos todas as outras formas e não foi de ânimo leve que o executivo tomou esta decisão”, disse, aclarando que não se trata de um uso regular.
Em Santo António dos Olivais, o presidente da junta, José Rodeiro, referiu que desde que tomou posse, em 2021, procurou resistir à aplicação de herbicidas à base de glifosato, mas acabou por aplicar por duas vezes neste ano, face à grande dimensão da freguesia e escassez de mão de obra.
“O critério foi evitar por completo as zonas urbanas e apenas aplicá-lo em zonas de pouca circulação humana e animal”, disse.
Já o presidente da União de Freguesias de São Martinho do Bispo e Ribeira de Frades, Jorge Veloso, afirmou que aquela junta não aplicou qualquer herbicida nos últimos dois mandatos.
“Temos depois algumas ruas com erva mais crescida, mas entendemos que a saúde pública está em primeiro lugar”, vincou.
Já em juntas de freguesia mais afastadas do centro urbano de Coimbra, como é o caso de Ceira e de Torres do Mondego, a aplicação acontece apenas em situações “pontuais”.
“Não usamos em passeios ou em zonas onde passe gente ou animais. Apenas em situações pontuais, em locais de difícil acesso”, aclarou o presidente da Junta de Ceira, Fernando Santos.
No caso de Torres do Mondego, o glifosato não é utilizado na limpeza das ruas, mas é aplicado “dentro dos cemitérios para controlo de ervas daninhas”, disse à Lusa o presidente da junta, Paulo Cardoso.