Chamariz mortal: Inseto predador usa resina para atrair as suas presas

A utilização de ferramentas por animais está documentada para várias espécies, especialmente no domínio dos vertebrados. Pense-se nos chimpanzés e outros primatas, nas lontras, nos corvos, nos golfinhos.
No mundo dos invertebrados há menos registos, mas um grupo de investigadores descobriu mais um exemplo para juntar ao conjunto.
Num artigo publicado este mês na revista ‘PNAS’, um grupo de cientistas da Universidade Agrícola da China e da Academia Chinesa de Ciências revelam que um inseto da família dos percevejos (os hemípteros), que se especializa na caça de abelhas melíponas, que não têm ferrão, é capaz de usar as defesas da presa em seu proveito.
O inseto predador pertence à espécie Pahabengkakia piliceps, que vive nas montanhas na província chinesa de Yunnan, e possui uma boca em forma de agulha que lhe permite sugar os fluidos do interior das suas presas. As abelhas de que se alimenta produzem uma resina pegajosa e de odores fortes que usam para fortificar as entradas para as suas colónias e para deter intrusos.
Quando predadores como formigas ou répteis tentam invadir o ninho, ficam presos e as abelhas protetoras convergem para o inimigo a fim de o imobilizarem e neutralizarem a ameaça. Contudo, o inseto P. piliceps não foge da resine. Em vez disso, recolhe-a com as patas dianteiras e médias e cobre-as com a substância.
De acordo com os investigadores, a resina serve como amplificador de sinais químicos que estimulam a resposta defensiva das abelhas. Ora, posicionado num local que favorece a sua investida, o inseto predador atrai as abelhas para uma armadilha letal.

“Esta é uma manipulação sofisticada do comportamento da presa”, salienta Zhengwei Wang, um dos coautores do estudo. “O inseto não se limita a evitar a deteção, ele ativamente provoca ataques para criar oportunidades”, sublinha.
Com base em experiências em campo, os cientistas estimam que os insetos predadores com as patas cobertas de resina têm 75% de probabilidade de capturarem uma presa, face aos menos de 30% de insetos que não usam essa substância como chamariz.
Vídeo: Inseto predador, à entrada de um ninho de abelhas, unta as patas com resina. Fonte: Zhaoyang Chen et al., 2025.
Porque as abelhas são a sua principal fonte de alimento e, por isso, fundamentais para a sua sobrevivência, os investigadores acreditam que os insetos P. piliceps foram, por via das forças de evolução, especializando-se cada vez mais e adaptando-se ao comportamento das suas presas para aumentarem o seu sucesso enquanto predadores, incluindo o uso de ferramentas como a resina.