Cientistas acusam governo australiano de falhar na proteção das espécies ameaçadas



Um grupo de cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, denunciam que as leis ambientais federais não são suficientes para travar a ‘crise de extinção’ que está a devastar a vida selvagem no país.

Através da análise do potencial de perda de habitats nos estados de Queensland e New South Wales, os especialistas, num artigo divulgado na revista ‘Conservation Science and Practice’, dizem que a lei australiana de proteção do ambiente e de conservação da biodiversidade, que data de 1999, “é mais ou menos inútil”.

Natalya Maitz, que liderou o estudo, considera que essa lei prevê a avaliação de projetos, por exemplo imobiliários, consoante o potencial de destruição de habitats que acarretam, mas a especialista lamenta que esse mecanismo não esteja a funcionar devidamente, deixando desprotegida a biodiversidade.

“Como a lei é hoje aplicada, projetos com impactos significativos estão a dizimar tantos habitats quanto projetos considerados de baixo risco”, denuncia, acrescentando que “se a lei estivesse efetivamente a proteger habitats ameaçados, seria expectável a destruição de menos habitats ambiental sensíveis”.

A investigação centrou-se em zonas onde a vegetação foi retirada para abrir caminho ao desenvolvimento de projetos e que serviam de habitat para espécies ameaçadas, espécies migratórias e “comunidades ecológicas ameaçadas” nesses dois estados australianos, que os cientistas dizem ser “um hotspot de desflorestação a nível global”.

Martin Taylor, outro dos autores, lança críticas ao regulador por não ser capaz de fazer avaliações de impacte ambiental consistentes e que tenham por base evidências científicas, e destaca que o gato-tigre (Dasyurus maculatus), um pequeno marsupial carnívoro considerado ‘ameaçado’ pela lei australiana, terá perdido já 82% do seu habitat “para projetos que foram considerados como tendo baixo impacto”.

Marsupial australiano Dasyurus maculatus.
Fonte: Artigo

Adicionalmente, o morcego da espécie Pteropus poliocephalus terá perdido 72% do seu habitat de referência pelas mesmas razões.

Morcego Pteropus poliocephalus.
Fonte: Hans Veth / Unsplash

“Estas espécies estão a caminho da extinção e o governo não alcançará a sua meta de zero extinções se não travar estas ameaças”, avisa Taylor.

No ano passado, a ministra do Ambiente e Água da Austrália, Tanya Plibersek, apresentou o plano do governo para “recuperar a vida selvagem ameaçada da nossa nação”, através de “esforços práticos no terreno” e da identificação de “ações concretas para a recuperação de espécies e comunidade ecológicas ameaçadas”.

O propósito dessa estratégia é travar a perda de espécies ameaçadas até 2030, reduzindo o risco de extinção “para todas as espécies prioritárias”, “melhorando as condições “em todos os locais prioritários”, prevenir novas extinções e, tal como plasmado no acordo global para a biodiversidade aprovado em dezembro da COP15, proteger e conservar, pelo menos, 30% da massa terrestre da Austrália.





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