Cientistas desafiam “grandeza” de uma das maiores migrações de animais do planeta



A Grande Migração dos Gnus entre a Tanzânia e o Quénia, na África oriental, é considerada a maior deslocação anual terrestre de animais que acontece atualmente no planeta. Essa longa viagem, que pode estender-se até aos 1.600 quilómetros numa rota circular, é fundamental para a contínua regeneração dos ecossistemas.

As estimativas apontavam, com base em imagens aéreas captadas a partir de helicópteros ou pequenos aviões, que aquele que é um dos mais fascinantes fenómenos do mundo natural move perto de 1,3 milhões de animais, um número que se tem mantido praticamente inalterado desde a década de 1970.

Contudo, um grupo de cientistas acredita que esses métodos não permitem ter uma ideia realmente precisa de quantos gnus participam na Grande Migração, pois captam apenas uma pequena área num curto espaço de tempo. A resposta, dizem eles, está nos satélites.

Segundo esta equipa internacional, as imagens captadas por satélites permitem uma muito maior cobertura, até dezenas de milhares de quilómetros quadrados numa única fotografia, reduzem a margem para contagens repetidas e evitam a necessidade de extrapolar dimensões populacionais com base em imagens demasiado limitadas no espaço e no tempo.

Claro que contar gnus a partir do Espaço não é tarefa fácil, pelo que os investigadores recorreram à Inteligências Artificial para ajudar. Assim, usando imagens captadas entre agosto de 2022 e agosto de 2023 sobre o Parque Nacional do Serengueti, na Tanzânia, e a Reserva Nacional de Masai Mara, no sudoeste do Quénia, chegaram a uma estimativa de entre 533 mil e 324 mil animais, uma diferença significativa face aos cerca de um milhão de animais de estimativas anteriores.

As conclusões foram apresentadas num artigo publicado este mês na revista ‘PNAS Nexus’, e os seus autores admitem até que os números a que chegaram podem estar ligeiramente sobrestimados, uma vez que as imagens de satélite com que trabalharam não permite distinguir totalmente os gnus de outros animais que com eles costumam embarcar na Grande Migração, como zebras e elandes.

Os cientistas dizem que a grande discrepância entre uma estimativa e a outra, uma diferença de quase metade, não significa que as populações de gnus estejam a colapsar, mas sim que as contagens por extrapolação podem ter estado a inflacionar grandemente a dimensão real.

Ainda assim, avisam que os gnus estão sob grande pressão. A fragmentação e a destruição do seu habitat, especialmente devido à expansão agrícola, ao desenvolvimento de infraestruturas e à colocação de vedações, estão a reduzir o espaço disponível para a migração desses animais, bem como de outros. Por outro lado, as alterações climáticas estão a alterar o ritmo das chuvas e a reduzir a abundância de pastagens de que os gnus e outros herbívoros migratórios dependem para sobreviver.

Como tal, este grupo de investigadores diz que é precisamente por isso que contagens populacionais mais precisas são fundamentais para fortalecer e tornar mais eficazes as ações de conservação.






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