Cientistas descobrem que, afinal, humanos não são os únicos primatas que passam pela menopausa



Do sem-número de espécies de animais que habitam o planeta Terra, apenas um grupo muito restrito tem fêmeas que deixam de se reproduzir antes de morrerem. A menopausa foi apenas observada, até ao momento, em cinco outras espécies de mamíferos, além dos humanos: orcas (Orcinus orca), baleias-piloto-tropicais (Globicephala macrorhynchus), belugas (Delphinapterus leucas), narvais (Monodon monocerus) e falsas-orcas (Pseudorca crassidens).

Mas agora, uma nova investigação revela que também os chimpanzés parecem atravessar a menopausa, alargando, assim, as espécies de primatas que têm lugar nesse conjunto exclusivo de animais.

Num artigo publicado recentemente na revista ‘Science’, cientistas dos Estados Unidos da América e da Alemanha dizem ter encontrado evidências de menopausa em fêmeas acima dos 50 anos de idade numa população que vive no Parque Nacional de Kibale, no Uganda, que há duas décadas é estudada de perto.

Embora reconheçam que ainda permanece um mistério a razão pela qual animais, fêmeas mais precisamente, continuem a viver mesmo depois de deixarem de ser capazes de gerar descendência, estes e outros investigadores sugerem que fêmeas na menopausa são parte importante do grupo, ajudando a cuidar dos mais jovens e aumentando o sucesso reprodutivo desses indivíduos e, assim, a propagação dos seus genes.

O estudo envolveu, além da observação das dinâmicas sociais desse grupo de chimpanzés, a recolha de amostras de urina de fêmeas entre os 16 e os 67 anos, com o objetivo de examinar a presença de hormonas sexuais e reprodutivas e perceber como alteram com à medida que os animais vão envelhecendo.

E os resultados mostram uma redução significativa dos níveis hormonais quando as fêmeas de chimpanzé se vão aproximando dos 50 anos, tal como acontece com os humanos. Por isso, agora sabemos que um dos nossos parentes genéticos e evolutivos mais próximos também passa pela menopausa, algo que era desconhecido.

Tal como acontece nos humanos, os investigadores perceberam que, quando atingem uma certa idade avançada, os níveis de estrogénio e progesterona das fêmeas de chimpanzé cai a pique.

O facto de só agora se ter chegado a essa descoberta é explicado pela dificuldade me estudar pormenorizadamente populações grandes de chimpanzés selvagens sem com isso perturbar as dinâmicas sociais e arriscar comprometer a fiabilidade das observações e resultados. Além disso, os chimpanzés vivem vidas longas, podendo mesmo chegar aos 70 anos em cativeiro e ultrapassar os 50 em contexto selvagem, pelo que os cientistas ainda não tinham dados suficientes para descortinar o mistério da vida pós-reprodutiva desses primatas.

Agora, combinando dados recolhidos ao longo de 21 anos, entre 1995 e 2016, e observações no terreno, estes investigadores conseguem afirmar com certeza que os chimpanzés, pelo menos os desta população do Uganda, realmente atravessam a menopausa.

Os cientistas sugerem que condições ecológicas favoráveis no Parque Nacional de Kibale, como a reduzida predação e a disponibilidade de alimento, por exemplo, permitem às fêmeas desse grupo viver mais tempo e, assim, chegar à menopausa. E consideram que o fenómeno pode não ter sido ainda observado noutras espécies de primatas por causa de impactos humanos e de surtos de doenças, fatores que reduzem a esperança de vida das fêmeas.

É possível que outras populações e espécies de primatas também sobrevivam além da fase reprodutora, mas por agora apenas os humanos e os chimpanzés desta população do Uganda fazem parte desse grupo seleto. E os investigadores acreditam que um conhecimento mais aprofundado sobre a menopausa nos chimpanzés ajudar-nos-á a conhecer melhor a nossa própria espécie.





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