Cientistas portugueses e cabo-verdianos descobrem berçário de tubarões na ilha da Boa Vista



Na baía de Sal Rei, na ilha da Boa Vista, em Cabo Verde, dozes investigadores portugueses e cabo-verdianos descobriram uma zona de refúgio e desenvolvimento de tubarões juvenis, incluindo de cinco espécies que correm o risco de desaparecer completamente nos próximos tempos: o tubarão-martelo-recortado (Sphyrna lewini), o tubarão-de-pontas-pretas (Carcharhinus limbatus), o tubarão-doninha (Paragaleus pectoralis), o tubarão-lixa (Ginglymostoma cirratum) e o tubarão-leite (Rhizoprionodon acutus).

Tubarão-martelo é uma das espécies mais ameaçadas de extinção.
Foto: Vasco Pissarra (coautor do artigo)

A investigação, que decorreu entre 2016 e 2019, foi liderada por Rui Rosa, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que salienta, em comunicado, que “a identificação e proteção de áreas de berçário é crucial para a conservação dos tubarões, um dos grupos de animais mais ameaçados a nível mundial”.

A descoberta resultou da monitorização da captura acidental de tubarões nessa região de Cabo Verde, bem como do estudo de testemunhos e do conhecimento dos pescadores locais. Assim, os cientistas conseguiram descobrir qual a zona preferida pelos jovens tubarões, onde se podem desenvolver e crescer longe das ameaças e dos predadores do mar aberto.

Baía de Sal Rei, ilha da Boa Vista, em Cabo Verde, onde foi encontrado aquele que se considera poder ser o primeiro berçário multiespécies de tubarões da costa atlântica de África.
Foto: Vasco Pissarra (coautor do artigo)

Os investigadores acreditam que na baía de Sal Rei concentram-se mais tubarões juvenis do que em qualquer outra área costeira da ilha da Boa Vista. E sugerem que tal se deve às características do local: pouco profundo e relativamente protegido da agitação das ondas do mar.

Nesse período de três anos, foram observados mais de seis mil juvenis e recém-nascidos na baía, levando os especialistas a considerar que podemos estar perante o primeiro berçário de diversas espécies de tubarões alguma vez descrito na costa atlântica de África. Por isso, defendem que a baía de Sal Rei é uma zona de grande importância para a sobrevivência destas várias espécies de tubarões ameaçadas, apontando que a sua “proteção efetiva” é da “máxima relevância” para evitar a sua extinção.

Tubarão-leite juvenil.
Foto: Vasco Pissarra (coautor do artigo)

“A relevância da região é claramente reconhecida pela comunidade local de pescadores”, explica Rui Rosa, indicando que a baía é também usada por tartarugas e mamíferos marinhos. “A proteção da baía de Sal Rei será importante não só para os tubarões, mas também para a conservação de toda uma diversidade de organismos marinhos altamente carismáticos e para o uso sustentável dos recursos marinhos na região”, aponta.

No artigo publicado este mês na revista ‘Frontiers in Marine Science’, os autores escrevem que, embora o governo cabo-verdiano tenha aprovado um plano para minimizar os impactos ambientais das atividades humanas sobre a baía, por exemplo, com a regulação da pesca e de desportos náuticos, outras atividades, como a pesca artesanal, a aquacultura, transportes marítimos e projetos de produção de energia renovável continuam a ser permitidos nessa área, e a representar uma ameaça à sobrevivência dos pequenos tubarões.

Além disso, apesar de o plano conter referências à proteção de mamíferos marinhos e das tartarugas, “não são encontradas referências aos tubarões, refletindo a falta de atenção prestada a este grupo taxonómico em particular”, adiantam.





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