Cinco espécies extintas no século XV descobertas na Madeira e Açores



Tal como aconteceu em Madagáscar ou na Nova Zelândia, parte da fauna original dos Açores e da Madeira foi extinta quando os humanos lá chegaram. Cinco destas espécies já desaparecidas foram agora redescobertas, por paleontólogos, na ilha do Pico, de São Miguel e de São Jorge, nos Açores, e nas ilhas de Porto Santo e da Madeira.

Segundo o jornal Público, que cita a revista científica Zootaxa, uma equipa internacional estudou ossos encontrados naquelas ilhas, que permitiram descrever cinco espécies extintas há mais de 500 anos – uma delas, o frango-d’água-do-pico – pequena ave que habitaria principalmente o solo –, terá sido levado à extinção devido aos ratos-pretos e os ratinhos que viajaram nas caravelas e nas naus portuguesas

A equipa liderada por Josep Antoni Alcover, do Instituto Mediterrânico de Estudos Avançados, em Maiorca, Espanha, pensa que as cinco espécies do género Rallus evoluíram a partir do frango-d’água que ainda existe no continente europeu (Rallus aquaticus), incluindo em Portugal.

Rallus aquaticus tem 23 a 28 centímetros de comprimento e 38 a 45 centímetros de envergadura de asas, habitando no litoral português em zonas de caniçais com água abundante. Mas esconde-se no meio da vegetação, por isso é difícil observá-lo. A sua plumagem é castanha na parte de cima do corpo e nas asas, e azulada por baixo, e tem um bico vermelho distintivo e patas também avermelhadas.

Das cinco aves, as espécies mais pequeninas eram a Rallus minutus, da ilha de São Jorge, e que era robusta e tinha as patas pequenas, e a Rallus carvaoensis, da ilha de São Miguel, que tinha as patas maiores e um bico mais curvado. Estas duas espécies já não voavam, tal como a espécie que habitava a ilha da Madeira, a Rallus lowei, relativamente pequena e com um corpo bastante robusto.

Tanto o frango-d’água-do-pico, cujo tamanho se aproximava da espécie do continente, como o do Porto Santo (Rallus adolfocaesaris) ainda retinham alguma capacidade de voar.

As cinco aves viveriam no chão, talvez na floresta de Laurissilva, típica daquelas ilhas, o que as tornou um alvo fácil. “A causa mais provável de extinção é a introdução do rato-preto (Rattus rattus) e do ratinho (Mus musculus) pelos humanos. Estas espécies de aves faziam os ninhos na terra, e os seus ovos e os pintos deviam ser muito vulneráveis [aos mamíferos]”, explicou Josep Antoni Alcover ao Público. Assim que os mamíferos chegaram às ilhas, “a extinção deve ter sido muito rápida, entre alguns anos e algumas décadas”.

Os vestígios mais recentes são da espécie da ilha do Pico, datando de entre 1404 e 1450. “A data mais recente sobrepõe-se com o momento da colonização portuguesa, e mostra que há uma sobreposição temporal entre a espécie e os humanos. Provavelmente, [estes ossos] são muito perto da altura da extinção desta espécie”, lê-se no artigo.

Embora a chegada dos portugueses aos Açores tenha sido decisiva para o desaparecimento das três espécies de Rallus, para a Madeira não há tantas certezas. Em 2014, um artigo publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, que Josep Antoni Alcover também assina, relatava a existência de vestígios de ratinhos com cerca de mil anos na ilha da Madeira. Segundo o artigo, a hipótese mais provável para a origem daqueles ratinhos foi a passagem dos Vikings pela Madeira. “É possível que a espécie da Madeira e talvez a de Porto Santo se tenham extinguido antes [da chegada] dos portugueses”, diz o cientista.






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