Combate à vespa asiática em Chaves começou na escola e vai espalhar-se pelo concelho
Alunos do 10.º ano de uma escola de Chaves criaram armadilhas ecológicas e de baixo custo para capturar vespas asiáticas, que vão ser aproveitadas pelo município para um projeto-piloto que visa combater esta espécie invasora no concelho.
“É um projeto que visa a mitigação do impacto da vespa asiática na região”, afirmou hoje à agência Lusa o professor de Física e Química da Escola Secundária doutor Júlio Martins, José Teixeira.
A vespa velutina, também conhecida como asiática, é uma espécie que exerce uma ação destrutiva sobre as colmeias de abelhas melíferas e pode constituir perigo para a saúde pública.
“E, nós, ao tentar defender as abelhas estamos a colocar armadilhas que estão a destruir outros polinizadores. É um ciclo vicioso que tem que ser atenuado para não se destruir o ecossistema”, salientou.
Este foi o mote para, no âmbito do projeto SOL (Save Our Lives), o docente e alunos criarem uma armadilha para capturar a vespa, em garrafas de plástico, que defendem ser “mais ecológica” porque têm um orifício mais pequeno, onde não entra a vespa autóctone crabro (maior que a asiática), bem como outros insetos como borboletas.
“Vai atenuar o efeito sobre esses insetos”, frisou Jorge Teixeira, realçando que a solução tem também escapatórias para os insetos mais pequenos, pelo que, concluiu, “são muito mais amigas do ecossistema”.
Por sua vez, o presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz, adiantou à Lusa que o município vai aproveitar esta solução de baixo custo e mais sustentável ambientalmente e avançar com um projeto-piloto que visa espalhar armadilhas feitas pelos alunos pelo concelho do norte do distrito de Vila Real.
“A praga tem vindo a intensificar-se”, apontou o autarca.
Em 2022, o município destruiu 66 ninhos e, em 2023, 445.
“A sua multiplicação tem sido significativa. Os bombeiros vão aumentar a capacidade de resposta para destruição dos ninhos, estamos a colocar armadilhas compradas no mercado e surgiu esta oportunidade e este espaço de parceria com a escola”, frisou Nuno Vaz.
O presidente explicou que o projeto vai ser monitorizado e se os impactos forem os expectáveis, pode ser alargado.
“Aqui está uma boa ideia e, agora, temos que perceber se esta boa ideia, de facto, é uma boa solução. É uma solução de baixo custo, contrariamente às que há no mercado que têm um custo monetário de algum significado”, salientou.
O projeto SOL é um dos 25 finalistas do Concurso Nacional de Inovação na Escola 2024, cujo vencedor será divulgado na segunda-feira, Dia Mundial da Criatividade e da Inovação.
O professor realçou que as armadilhas estão a ser feitas com material da própria escola, como garrafas de plástico ou paus.
Nas suas contas, instalar cerca de 300 armadilhas em cada um dos 308 concelhos do país teria um custo de cerca de oito milhões de euros, enquanto a opção pelas armadilhas feitas nas escolas ficaria “praticamente a um custo zero”.
“Além disso reutilizaríamos cerca de 40 toneladas de plástico, o que é significativo”, destacou.
Por fim, apontou para outra fase do projeto relacionada com as harpas elétricas, já usadas para afugentar as vespas dos apiários.
Só que, acrescentou, às vezes, quando os insetos ficam presos em dois fios próximos, o sistema fica com uma voltagem baixa e deixa de funcionar.
“Pensámos numa maneira, que fosse barata, de limpar a própria harpa (…) E, assim, quem toma conta dos apiários não precisa de ir lá tantas vezes”, sustentou.
As armadilhas foram colocadas numa quinta e recintos escolares do Agrupamento de Escolas doutor Júlio Martins, o projeto foi alargado a outros graus de ensino e foi criada a Patrulha da Abelha, que envolve os alunos mais pequenos na sua monitorização.
Jorge Teixeira referiu que por cada vespa fundadora capturada é menos um ninho e, logo, um contributo para mitigar este problema, que foi identificado pelos estudantes como um dos mais relevantes neste ano letivo, em Chaves.