Como as alterações climáticas podem afetar o futuro dos caranguejos vermelhos da Ilha do Natal

Os caranguejos vermelhos são uma das características mais distintivas da Ilha do Natal, território australiano no Oceano Índico. A espécie, conhecida pelo nome científico Gecarcoidea natalis, vive em terra firme, mas uma vez por ano uma grande massa carmesim de milhões de caranguejos lança-se numa jornada épica em direção às praias, onde as fêmeas depositarão os seus ovos nas águas mais perto da costa, uma vez que não sabem nadar.
Apesar de levarem vidas terrestres, os caranguejos G. natalis, resquício das suas origens marinhas, precisam da água do mar para que os seus ovos se possam desenvolver e, assim, dar origem à próxima geração.
Previsões sobre o clima do futuro, indicam que será de esperar um aumento da precipitação nas regiões tropicais, tornando as épocas das monções mais intensas. Isso poderá injetar maiores quantidades de água doce nas águas costeiras, reduzindo os níveis de salinidade.
Dada a dependência que esses caranguejos têm da água do mar para a sua reprodução, uma equipa de investigadores da Universidade de Plymouth (Reino Unido), numa visita à Ilha do Natal, quis perceber se a redução da salinidade das águas costeiras poderá afetar o desenvolvimento dos embriões dessa espécie.
Para isso, recolheram ovos fertilizados num estado avançado de desenvolvimento e colocaram-nos em tanques com água do mar com diferentes níveis de salinidade, recolhendo dados durante um período de 24 horas.
Apesar de estudos anteriores apontarem que a salinidade afeta o ritmo e a duração do desenvolvimento dos embriões de crustáceos aquáticos nos seus primeiros momentos de vida, esta equipa concluiu que, para os caranguejos vermelhos da Ilha do Natal, alterações nos níveis de sal da água não tinham qualquer impacto na altura em que se registava o primeiro batimento cardíaco, na altura da eclosão e no movimento dos pequenos caranguejos após nascerem.
Com base nesses dados, publicados na revista ‘Journal of Experimental Biology’, os investigadores dizem ser boas notícias para a sobrevivência da espécie, tendo em conta o que os modelos de previsão climática dizem sobre o aumento da intensidade da chuva nas regiões tropicais.
Ainda assim, apesar do otimismo, reconhecem que este estudo focou-se apenas num indicador de stress ambiental – os níveis de salinidade – e numa fase já tardia do desenvolvimento embrionário desses caranguejos. Por isso, dizem que para se poder ter uma imagem mais completa e clara dos efeitos esperados das alterações climáticas na espécie é preciso abranger o escopo da investigação, abrangendo todos os estádios de desenvolvimento e também integrando outros fatores ambientais, como a temperatura, por exemplo.
“O nosso estudo permitiu-nos analisar em grande detalhe a forma como fatores como batimento cardíaco e movimento de ovos individuais respondem quando o ambiente em que eles vivem se altera. O facto de não termos visto qualquer efeito foi inesperado, e isso pode ser claramente uma boa notícia para a espécie”, diz, em comunicado, Lucy Turner, primeira autora do artigo.
Mas reconhece que “olhámos apenas para um fator de stress específico, e durante um período de 24 horas, pelo que seria bom expandir significativamente o estudo para compreender o que precisamos de fazer para proteger os caranguejos no futuro”.