Como é que a temperatura determina o sexo das tartarugas? Cientistas explicam tudo

A temperatura é um elemento fundamental na determinação do sexo de várias espécies de répteis. No caso das tartarugas, temperaturas mais elevadas durante o processo de desenvolvimento embrionário geram mais fêmeas do que machos.
Uma equipa de cientistas liderada pela Duke University, nos Estados Unidos da América, estudou o ciclo de vida das tartarugas-de-orelha-vermelha (Trachemys scripta) para perceber de que forma a temperatura influencia o sexo das crias.
Num artigo publicado recentemente na ‘Current Biology’, explicam que além de temperaturas mais elevadas gerarem mais fêmeas, as células desses embriões que darão origem a óvulos são também mais numerosas. E esses ‘pré-óvulos’ reforçam o desenvolvimento de indivíduos fêmeas.

Foto: Alan Schmierer / Wikimedia Commons
Assim, quanto mais alta for a temperatura a que os embriões estão expostos durante o seu desenvolvimento, maior o número de ‘pré-óvulos’ e mais fortemente impulsionado é o processo de feminização. “As temperaturas que produzem fêmeas são também as temperaturas que aumentam o número” de gâmetas femininos.
Em laboratório, os cientistas descobriram que a remoção dessas células germinativas durante o desenvolvimento embrionário daria origem a mais machos do que fêmeas, comprovando a tese de que essas células são fundamentais na geração das fêmeas.
Num contexto de aquecimento global, essa pode ser uma “estratégia arriscada”, argumentam os investigadores, podendo comprometer o sucesso reprodutivo não apenas desta espécie, mas também de todas as outras com dependências térmicas semelhantes.
Acredita-se que esse seja um mecanismo para assegurar o sucesso reprodutivo, uma vez que uma fêmea que nasça com mais gâmetas femininos será capaz de produzir uma maior descendência. Será essa vantagem reprodutiva que terá mantido esse mecanismo ao longo da história evolutiva dos répteis, apesar dos riscos que acarreta.
Contudo, se as temperaturas excederem certos limites térmicos, acima dos 31 graus Celsius, segundo as estimativas dos cientistas, poderão dar origem a embriões deformados, havendo registo de embriões com apenas um olho ou com duas cabeças.
Num planeta cada vez mais quente, é crucial saber como os aumentos de temperatura podem afetar o sucesso reprodutivo das espécies cujo desenvolvimento embrionário e determinação sexual estejam termicamente dependentes, bem como a sua sobrevivência, uma vez que a feminização das populações, com a predominância de um sexo sobre o outro, poderá reduzir o número de crias em cada geração.
Estes investigadores querem agora perceber se temperaturas mais altas também resultam no aumento de gâmetas em embriões de outras espécies de répteis, como o aligátor. Esse animal apresenta um padrão oposto ao da tartaruga-de-orelha-vermelha: as temperaturas altas geram, ao invés, mais machos.