Compreender as formigas para decifrar as mortes



A compreensão da atividade das formigas nos corpos pode ajudar-nos a reconstruir os eventos que ocorreram no momento da morte e durante os primeiros períodos post-mortem.

Pela primeira vez, foi realizado um estudo que analisou 10 casos reais de atividade de formigas em cadáveres durante o período pós-morte.

A nova investigação propõe um sistema de classificação para ajudar a identificar padrões de manchas de sangue causados pela atividade das formigas.

Apesar de, no passado, a atividade das formigas ter sido sobretudo referida como escoriações em corpos em decomposição, verificou-se que as formigas podem produzir alterações que imitam hemorragias ativas ou recentes, o que pode induzir em erro durante as investigações.

As classificações propostas podem ajudar a identificar e descrever hemorragias externas produzidas por formigas, determinar a posição original do corpo e o seu potencial movimento, e fornecer pistas sobre a causa da morte.

A autora principal, Paola Magni, da Universidade de Murdoch, afirma que esta nova compreensão da atividade das formigas ajudará a precisão de futuras investigações.

“Os entomologistas forenses reconstituem eventos criminais utilizando insetos, sendo que as moscas varejeiras desempenham um papel significativo. No entanto, as formigas são muitas vezes negligenciadas como uma mera presença incidental num cadáver, e a sua importância pode passar despercebida a um olho destreinado”, explica Magni.

Segundo a autora, “no local do crime, as manchas de moscas nos excrementos e no vómito podem ser confundidas com salpicos de sangue de alta velocidade resultantes de tiros. Um entomologista forense pode distinguir entre provas relacionadas com tiros e marcas relacionadas com insetos, analisando a distribuição das manchas e o ADN das manchas”.

“Agora também sabemos que a atividade das formigas deve ser considerada como uma causa potencial de hemorragia quando a origem da lesão não é clara, mesmo na ausência de insetos visíveis”, acrescenta.

O estudo, realizado nas ilhas Andaman e Nicobar, na Índia, descreve os 10 casos de atividade de formigas post-mortem e analisa os artefactos hemorrágicos externos resultantes, que poderiam ter sido mal interpretados.

Novo sistema para melhorar compreensão do significado da ecologia dos insetos

Magni afirma que um novo sistema de classificação ajudará a desenvolver uma compreensão mais ampla do significado da ecologia dos insetos para melhorar as investigações forenses. “Em última análise, as novas classificações poderão melhorar a exatidão da reconstrução dos acontecimentos ocorridos durante o período pós-morte, bem como as circunstâncias que rodearam a morte”, afirmou.

Esta área de investigação será contínua devido à natureza mutável das formigas e dos insetos, à medida que as espécies invasoras vão tendo o seu impacto em todo o mundo.

“Continuamos a aprender mais sobre o impacto das moscas varejeiras, dos escaravelhos e das formigas no período post-mortem – mas as formigas na Austrália estão a mudar, por isso o que é que isso significa para as investigações criminais a longo prazo”, disse Magni.

“Estamos agora a analisar a forma como estas mudanças nas espécies terão um impacto diferente nos corpos, uma vez que haverá implicações contínuas no espaço forense”, conclui.





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