Comunidade de Ovar cria grupo de ação para defender e fiscalizar Perímetro Florestal
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Biólogos, urbanistas, advogados e políticos são alguns dos profissionais que se associaram ao Grupo de Conservação da Natureza +Pinhal para dinamizar o que esse descreveu hoje como “todas as ações necessárias” para proteger o Perímetro Florestal de Ovar.
Criado em janeiro por iniciativa de ambientalistas desse concelho do distrito de Aveiro, o coletivo já ultrapassa os 1.300 seguidores na Internet e conta com mais de 110 associados formais, entre os quais se incluem, distribuídos por diferentes órgãos sociais, desde biólogos e engenheiros do ambiente até professores, médicos, advogados, juristas, arquitetos, urbanistas, empresários e designers, assim como políticos de vários quadrantes ideológicos, moradores do concelho e outros apreciadores da costa vareira.
“O objetivo é constituirmo-nos como uma associação para facilitar a agilização de todas as ações necessárias para proteger o Pinhal de Ovar, inclusive processos criminais, se necessário”, declarou à Lusa uma das fundadoras do grupo, a médica e bióloga Margarida Coelho, também ligada ao coletivo “The Camarinha Project”, dedicado à conservação da ‘Corema album’ e outras espécies endémicas dos sistemas dunares ibéricos.
Essa potencial intervenção prende-se com o Plano de Gestão Florestal definido para os 2.584 hectares do pinhal de Ovar pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que em 2022 gerou polémica por ordenar para essa mancha verde o abate de 250 hectares de pinheiro-bravo até 2026 e a resinagem à morte de grande parte dessas árvores – o que foi contestado numa petição pública com 18.877 assinaturas.
“A petição deu origem a uma resolução na Assembleia da República, recomendando ao Governo, entre outras medidas, que não houvesse cortes rasos, que se parasse a resinagem à morte e se controlassem as espécies invasoras. Mas, entretanto, o Governo mudou, emitiram-se outras recomendações e o abate cego foi retomado, com um plano que prevê o corte de áreas ainda maiores do que os realizados antes”, disse Margarida Coelho.
Um dos locais para onde isso está anunciado, segundo a cofundadora do +Pinhal, é na freguesia do Furadouro, onde o novo plano prevê, “num espaço de oito anos, o corte raso contínuo dos talhões 80, 81 e 82, num total de 75 hectares”, o que contradiz o próprio documento orientador da operação, que se propõe seguir “o conceito de mosaico florestal, com corte de pequenas áreas dispersas, de configuração assimétrica”.
“O que era para se fazer intercaladamente, para que uma área sem pinheiros estivesse sempre ao lado de outras com árvores de alguma idade, será feito a eito”, lamentou Margarida Coelho. “A recomendação de que a zona abatida ficasse com contornos irregulares, de aspeto mais natural, também será ignorada, com o corte a fazer-se em linhas retas, tipo avenida”, acrescentou.
Além disso, duas outras questões levantam dúvidas ao +Pinhal: há hastas públicas de lotes de material lenhoso identificados como “extraordinários” e que não estavam contabilizados nas áreas de cortes previstas, somando-se assim a essas zonas; e o plano identifica para abate zonas de pinheiros na faixa etária dos 90 a 99 anos, mas, “pela análise científica dos anéis dos tocos, a idade das árvores cortadas andará à volta dos 50 anos”.
Face a essas questões, Margarida Coelho identificou as prioridades do novo coletivo: “a suspensão imediata do novo Plano de Gestão Florestal das Dunas de Ovar até a realização de um estudo independente e participativo que envolva cientistas, ambientalistas e cidadãos; a abertura de um processo de investigação para apurar eventuais ilicitudes na elaboração e aprovação do plano; e a criação de um novo plano que garanta a proteção efetiva da floresta, respeitando os princípios da sustentabilidade e do interesse público”.
Questionado na semana passada pela Lusa sobre as questões levantadas pelo grupo +Pinhal, o ICNF ainda não respondeu.