Conferência dos Oceanos da ONU espera 88,2 mil milhões de euros em financiamento

A terceira Conferência dos Oceanos da ONU, a decorrer entre 09 e 13 de junho em Nice, França, espera 100 mil milhões de dólares (88,2 mil milhões de euros) em novos financiamentos, anunciou hoje a organização do evento.
Num ‘briefing’ na sede da ONU, em Nova Iorque, a embaixadora da Costa Rica – país que copreside a Conferência juntamente com França – indicou que são esperados “1.500 delegados, 195 países, 500 compromissos vinculativos e 100 mil milhões de dólares em novos financiamentos”, além de “resultados máximos históricos”.
“A terceira Conferência das Nações Unidas para os Oceanos (UNOC3, na sigla inglesa) reverterá o declínio dos Oceanos até 2030 ou documentará a omissão da humanidade em agir. Cinco dias, um oceano, uma oportunidade única”, defendeu a embaixadora, Maritza Chan Valverde.
Sem entrar em grandes detalhes sobre as entidades e atores que fornecerão esse financiamento, a diplomata da Costa Rica afirmou que, durante o Fórum Financeiro da Economia Azul da UNOC3, executivos de ‘Wall Street’ vão comprometer-se com “50 mil milhões de dólares (44,11 mil milhões de euros) em investimentos sustentáveis no oceano e na criação de 10 milhões de empregos na economia azul até 2030”.
Por sua vez, o embaixador francês junto à ONU, Jérôme Bonnafont, recusou adiantar de onde virá o financiamento, frisando que os anúncios serão feitos no decorrer da conferência, mas garantiu “esperar muitos recursos que reafirmem os compromissos com o Oceano”.
Bonnafont afirmou que o objetivo da França com a conferência de Nice é “produzir um acordo que seja pró-oceanos, como o acordo de Paris de há 10 anos foi para o clima”.
Nesse sentido, a organização do evento espera um plano de ação operacional, onde os países se comprometam com ações concretas para proteger os oceanos.
Além dos vários paineis e mesas redondas durante a Conferência, haverá igualmente “um momento especial” para a ratificação do Tratado do Alto Mar, formalmente designado Acordo sobre Proteção da Biodiversidade Marinha em Áreas para além da Jurisdição Nacional (BBNJ, na sigla inglesa).
O Tratado do Alto Mar resultou de quase 20 anos de discussões e tem como objetivo a conservação e utilização sustentável da biodiversidade marinha.
É um documento juridicamente vinculativo de proteção das águas internacionais, que estão fora da área de jurisdição nacional, correspondendo a cerca de 70% da superfície da Terra.
“É nossa ambição garantir que este tratado, que nos mostrou a urgência deste assunto há algumas semanas, entre em vigor. (…) É realmente importante que esse tratado se torne lei internacional em todo o mundo”, assumiu o diplomata francês.
Na sessão informativa à imprensa esteve também presente o subsecretário-geral das Nações Unidas para os Assuntos Económicos e Sociais, Li Junhua, que assegurou que a UNOC3 “não será apenas mais um encontro de rotina” e afirmou que o futuro do oceano será moldado pelas decisões e ações tomadas agora.
Na sessão de hoje foi também abordada a eventual participação dos Estados Unidos na UNOC3, a qual ainda não está confirmada.
No entanto, apesar de Washington não ter indicado que participará no evento, a organização indicou que “muitas cidades, empresas e cientistas norte-americanos” estarão presentes em Nice.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, um cético em relação às alterações climáticas, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa no primeiro dia do seu segundo mandato.
Trump quer também acelerar a mineração em mar profundo, incluindo em águas internacionais, apesar das incertezas sobre os efeitos do processo na vida marinha.
Face ao risco “de ver os oceanos tornarem-se espaços para uma competição descontrolada pela exploração de recursos naturais”, a organização da UNOC3 frisou que esse é um dos motivos para estar a “trabalhar tão ativamente para garantir a ratificação do BBNJ”.
A terceira conferência dos oceanos realiza-se em Nice, França, de 09 a 13 de junho, depois de uma primeira conferência em Nova Iorque e da segunda em Lisboa.
Vai ter como tema “acelerar a ação e mobilizar todos os intervenientes para conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos”.