Conhecidas duas novas espécies de aracnídeos. Cientistas dizem ser “relíquias biológicas”



Um trio de investigadores do Museu Americano de História Natural e da Universidad de la Guajira descobriu, depois de explorar várias grutas naturais na cordilheira da Sierra Nevada de Santa Marta, na Colômbia, uma nova espécie de aranha até então desconhecida da Ciência.

Batizada com o nome científico Jorottui ipuanai, este aracnídeo não tem olhos e o seu corpo quitinoso está totalmente desprovido de pigmento, conferindo-lhe uma coloração esbranquiçada. É um animal relativamente pequeno, não medindo mais de um centímetro de comprimento, e os indivíduos recolhidos são os primeiros quer dessa espécie, quer desse género, ambos criados para descrever esta aranha.

A J. ipuanai torna-se, assim, uma de apenas duas espécies ainda vivas de uma família de aracnídeos bastante antiga, de nome Paracharontidae, e a primeira a ser identificada fora do continente africano. A outra espécie dessa família, a Paracharon caecus, habita as regiões áridas da África ocidental, vivendo em colónias de térmitas e foi descoberta há mais de um século. Contudo, desde então, não houve novos avistamentos dessa aranha.

A aranha Jorottui ipuanai foi encontrada em cavernas na cordilheira da Sierra Nevada de Santa Marta, na Colômbia.
Foto: Jairo A. Moreno-González et al. (2023)

A descoberta foi revelada num artigo publicado na revista ‘American Museum Novitates’, em junho do ano passado, e o seu principal autor, Jairo Moreno-González, afirma, em comunicado, que essa nova espécie será fundamental para que melhor se possa compreender a evolução “destes estranhos aracnídeos”.

Também de outra investigação de entomólogos do Museu Americano de História Natural resultou a descoberta de uma espécie de escorpião na Grécia.

Lorenzo Prendini, dessa instituição, e Javier Blasco-Aróstegui, do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), publicaram, em novembro passado na mesma revista, um artigo no qual descrevem o Euscorpius olympus.

Como o nome da espécie sugere, o escorpião foi encontrado no Monte Olimpo, a montanha mais alta da Grécia, que, pelos vistos, não só é a casa dos deuses antigos, como também, confirma Blasco-Aróstegui, “um importante ponto quente de biodiversidade na Europa”.

O escorpião Euscorpius olympus (macho na foto) foi encontrado no sopé do Monte Olimpo, na Grécia.
Foto: Javier Blasco-Aróstegui & Lorenzo Prendini (2023)

Com a nova adição, o género Euscorpius passa a contar com um total de 74 espécies identificadas até ao momento, 32 das quais encontradas apenas em terras gregas e três na região do Monte Olimpo.

Os autores explicam, no artigo, que as variações de altitude fazem das montanhas lugares de grande diversidade de espécies, indicando que “oscilações climáticas pronunciadas, a par de gradientes de altitude e da disponibilidade de micro-refúgios” conferem às montanhas, e ao Monte Olimpo em particular, condições especialmente favoráveis à proliferação de biodiversidade.

Pensa-se que, durante a última glaciação, o Euscorpius olympus tenha ficado isolado, no sopé do Olimpo, das populações de escorpiões que são hoje encontradas a maiores altitudes. Aí, ter-se-á adaptado às condições biofísicas do seu habitat, desenvolvendo apêndices alongados, como pinças finas.

Este escorpião mede cerca de quatro centímetros de comprimento e o seu corpo está coberto por uma ‘armadura’ de quitina de tom castanho-escuro, e mas os machos costumam ser mais claros do que as fêmeas. Tendo por base os locais onde os espécimes foram recolhidos, o E. olympus vive em fissuras nas rochas calcárias características do sopé do Monte Olimpo.

Local onde a nova espécie de escorpião foi encontrada, na base do Monte Olimpo.
Foto: Javier Blasco-Aróstegui & Lorenzo Prendini (2023)

Por pertencerem a linhagens antigas que evoluíram em ambientes isolados e se mantiveram praticamente inalteradas ao longo de milhões de anos, os investigadores consideram que tanto esta aranha como este escorpião são autênticas “relíquias biológicas”.

Segundo Prendini, “não revelam apenas o quanto ainda existe para ser descoberto, mesmo em partes do mundo que se pensa estarem relativamente bem estudadas, mas a sua sobrevivência ao longo de milénios tem implicações sobre como os organismos sobrevivem ao efeitos das alterações climáticas, o que se tornará cada vez mais importante nos anos que se avizinham”.





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