Construção de casas de arroz ecológicas e económicas aumenta no Quirguistão



No Quirguistão, os estaleiros de construção de casas são normais, exceto pelos materiais de construção como blocos de cimento de arroz, uma componente ecológica e económica que está a ganhar popularidade no país da Ásia Central.

“Escolhi blocos de arroz depois de considerar outras opções: são práticos para aquecimento, economia e construção”, revelou Akmatbek Uraymov, residente de Kyzyl-Kia, no sul deste país.

Antes de decidir, Akmatbek Uraymov “verificou primeiro com os seus próprios olhos” este material chamado “casca de arroz”, obtido pela separação do grão da casca.

“Não tenho dúvidas sobre a qualidade. As pessoas não sabiam, mas quando veem o local da obra, interessam-se e ligam-me”, frisou na segunda-feira à agência France-Presse (AFP).

Esta técnica de construção, como alternativa ao cimento, atrai atualmente o interesse de cientistas de todos os continentes.

Em vários estudos académicos recentes, na China, Índia, Espanha e nos continentes africano e sul-americano, os especialistas destacam as propriedades energéticas, económicas, físicas e ambientais do arroz para fazer face aos desafios climáticos.

A utilização de casca de arroz, por exemplo, reduz a utilização de cimento, que consome muita água e é responsável por aproximadamente 8% das emissões globais de CO2, segundo dados de 2023 do Fórum Económico Mundial.

A viver numa aldeia de uma região montanhosa e árida, Ykhval Borieva optou também pelo arroz, elogiando as suas propriedades isolantes, demonstradas pelos cientistas.

Graças à baixa condutividade térmica do arroz, a sua casa mantém-se “quente no inverno e fresca na primavera”.

“Poupamos carvão. As paredes retêm bem o calor e a frescura”, garantiu.

Estas casas foram criadas graças ao engenho de Nursultan Taabaldyev, um dos pioneiros deste processo na Ásia Central.

“Esta ideia surgiu quando eu era criança, enquanto fazia carpintaria com o meu pai”, explicou Nursultan, que não esperou para ler estudos científicos antes de começar.

Aos 27 anos, já construiu “300 casas” em cinco anos, primeiro com serradura e depois com arroz.

Os tijolos são “constituídos por 60% de casca de arroz, sendo o restante argila, cimento e uma cola sem químicos”, contou à AFP.

Na sua oficina artesanal, onde se acumula o pó de arroz, os trabalhadores, protegendo o rosto, comprimem os tijolos, apressam-se a secá-los e ajudam os clientes a carregá-los.

Quando secos, serão tão resistentes como o cimento, graças à sílica, um óxido mineral. E em termos de segurança contra incêndios, um responsável regional do Ministério das Situações de Emergência disse à AFP que não viu “nenhum perigo específico nestas casas”.

Para Nursultan, a matéria-prima está sempre à mão, pois a região de Batken, onde vive, produz um terço do arroz do Quirguistão.

“Os resíduos de arroz são atirados para os campos, queimam lentamente, prejudicam o ambiente e não são utilizados como fertilizante. Por isso, decidimos reciclá-los”, explicou o empresário.

Esta abundância de arroz torna estes tijolos mais baratos do que os tijolos de cimento, um argumento crucial no sul do Quirguistão, onde o salário médio mensal ronda os 200 euros.

Principalmente porque o cimento no Quirguistão é o mais caro da Ásia Central e poderia ser adicionado à lista de produtos socialmente sensíveis, como o pão ou o azeite, para controlar os preços.

Agora, Nursultan sonha em automatizar a produção para se expandir internacionalmente e realizar outros projetos.

“Quero ir ao Cazaquistão fazer tijolos com junco (tipo de planta) e palha triturados”, salientou.






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