COP30 abre caminho a uma agenda climática mais realista e coloca biotecnologia no centro das soluções globais
A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, COP30, que terminou este fim de semana no Brasil, ficou marcada por um momento decisivo: pela primeira vez, os países reconheceram oficialmente que o objetivo de temperatura estabelecido no Acordo de Paris não será alcançado. Esta admissão, embora dura, criou um clima de negociação mais honesto, abrindo espaço para avanços considerados pelos especialistas como mais pragmáticos e orientados para soluções.
Em comunicado, especialistas da Universidade de Queensland explicam que, realizada em Belém, no coração da Amazónia, a conferência colocou a biodiversidade, os ecossistemas e o papel das comunidades indígenas no centro das discussões. Ao fazê-lo, reforçou a ideia de que a ação climática só é eficaz quando integra fatores ambientais, sociais e económicos, incentivando políticas que protejam simultaneamente o clima e a natureza.
Transição energética com novo impulso
Entre os resultados mais significativos os especialistas salientam o que descrevem como “um compromisso reforçado com a redução da dependência global de combustíveis fósseis”. Embora a linguagem final não tenha assumido um abandono total, os países acordaram acelerar a transição para sistemas energéticos renováveis e de baixo carbono, com metas mais claras e maior transparência. Este avanço dá previsibilidade a governos, investidores e empresas, facilitando decisões de longo prazo.
Consideram também que houve progresso na reforma do financiamento climático, com novas medidas destinadas a facilitar o acesso aos fundos para mitigação e adaptação, sobretudo em economias emergentes. A conferência reforçou igualmente a importância da agricultura sustentável, das soluções baseadas na natureza e da gestão resiliente do uso do solo.
Biotecnologia ganha protagonismo
Os especialistas da Universidade de Queensland consideram que uma das novidades mais marcantes da COP30 foi o reconhecimento explícito da biotecnologia e da bioeconomia circular como ferramentas essenciais na mitigação das alterações climáticas. Até aqui, estes temas surgiam diluídos em discussões sobre inovação, argumentam, acrescentando que, em Belém, assumiram um papel central.
Os representantes dos vários países presentes na cimeira destacaram o potencial dos sistemas biológicos para transformar carbono residual em produtos úteis, substituir matérias-primas derivadas do petróleo e criar plataformas industriais sustentáveis. A articulação entre a COP30 e o Quadro Global da Biodiversidade Kunming–Montreal reforça a inclusão da biodiversidade nos planos nacionais de mitigação, com impacto direto na agricultura, mineração e gestão ambiental.
O reconhecimento dado pela COP30 às soluções biológicas reforça o ambiente político necessário para desenvolver e escalar estas tecnologias, consideradas fundamentais para dissociar a atividade industrial das emissões e da utilização intensiva de recursos, salienta a Universidade de Queensland.
Oportunidades para a Austrália
A conferência sublinhou ainda a importância dos minerais críticos, como as terras raras, essenciais para baterias, turbinas e equipamentos eletrónicos. A Austrália, detentora de algumas das maiores reservas mundiais, é vista como um ator-chave na transição energética global — desde que consiga adotar processos de extração mais responsáveis.
A COP30 abriu espaço para soluções inovadoras, como o uso de proteínas criadas em laboratório que sejam capazes de selecionar e recuperar metais com elevada eficiência e baixo impacto ambiental. Estas tecnologias representam uma oportunidade económica e um caminho para alinhar o setor da mineração com os objetivos de sustentabilidade, dizem os especialistas da universidade australiana.
Para os especialistas, a COP30 foi um momento de viragem: não apenas pelo reconhecimento das limitações atuais, mas pela criação de uma agenda “mais prática, inclusiva e centrada na inovação”. Ao valorizar a biotecnologia e a bioeconomia, consideram, a conferência amplia oportunidades para países como a Austrália e para instituições que lideram a investigação nesta área, abrindo caminho a uma transição mais sustentável e resiliente.