Cor e sobrevivência: Cientistas descobrem por que razão os lobos pretos podem ser os mais resistentes
Desde a região ártica do Canada, seguindo as Montanhas Rochosas até aos Estados Unidos em direção ao México, é possível testemunhar a presença de lobos, e os cientistas sabem que quanto mais para sul mais lobos de pelagem negra existem. Até agora não se sabia a razão dessa distribuição, mas um grupo de especialistas dos EUA, do Reino Unido e de França desvendou o mistério.
Tim Coulson, da Universidade de Oxford, e um dos autores do estudo publicado na revista ‘Science’, explica que os lobos pretos não existem na maior parte do mundo, e onde estão presentes são muito raros. Na América do Norte, “são comuns em algumas áreas”, mas estão ausentes em outras.
A cor do pêlo nos lobos é atualmente determinada por um gene conhecido como CPD103. Contudo, esse gene, no início, codificava a informação genética para pêlo cinzento, e não preto. Uma mutação que ocorreu nos genes do cão, e que acabou por ser transmitida aos lobos, através da reprodução, fez com que esses animais passassem a poder apresentar pelagem preta.
Explicam os autores que os lobos herdam duas cópias do gene CPD103, um de cada progenitor, mas que basta herdarem apenas uma cópia que transporte a variação para apresentarem pêlo preto.
Os cientistas acreditam também que esse mesmo gene ajuda os lobos a protegerem-se de doenças respiratórias, como a cinomose, porque a zona do ADN onde está o CPD103 é também responsável pela produção de uma proteína que está envolvida no processo de proteção dos pulmões dos mamíferos contra infeções.
As conclusões apresentadas no artigo agora divulgado são o resultado da observação de 12 populações de lobos na América do Norte, bem como da análise de mais de 20 anos de dados recolhidas das populações de lobos em Yellowstone.
Verificou-se que a maioria dos lobos que apresentavam anticorpos para a cinomose – o que significava que já tinham contraído o vírus no passado e que tinham sobrevivido – tinham pêlo preto, e animais com essas características eram mais comuns em zonas onde se sabia que tinham ocorrido surtos de cinomose. Assim, o pêlo preto do lobo pode ser associado à sua capacidade para sobreviver a infeções respiratórias.
Nessas áreas onde o vírus esteve presente, avançam os cientistas, percebeu-se que havia uma maior probabilidade de lobos cinzentos e lobos pretos acasalarem, uma estratégia adaptativa que visa aumentar a probabilidade de as crias nascerem com o gene CPD103 que as protegerá de doenças respiratórias.
“Isso também explica porque que razão os pares reprodutores em Yellowstone, onde ocorreram surtos de cinomose, tendem a ser preto-cinzento”, salientam.
Por sua vez, Peter Hudson, da Pennsylvania State University, afirma que “é intrigante que o gene para a proteção contra a cinomose tenha vindo do cão doméstico que foi levado pelos primeiros humanos que entraram na América do Norte, e que a cinomose tenha emergido na América do Norte muitos milhares de anos depois, também a partir dos cães”.
O grupo de cientistas acredita que o que foi possível observar nos lobos acontecerá também noutras espécies de animais. Diversos insetos, aves, anfíbios e mamíferos demonstram associações entre cor e resistência a doenças, pelo que se especula que os animais, na hora de escolherem um parceiro com quem acasalar, levem a cor em séria consideração, não somente o tamanho, a força ou os passos de dança.