Corvo incentiva reutilização e reciclagem para obter certificação “Zero Resíduos”
O município açoriano do Corvo assinou o compromisso para obtenção da certificação “Zero Resíduos”, que deverá passar pela separação e tratamento de biorresíduos e por uma maior promoção da reutilização e reciclagem, anunciou hoje a associação ambientalista Zero.
A mais pequena ilha do arquipélago dos Açores deverá implementar um sistema de recolha porta-a-porta de biorresíduos, que serão depois tratados em unidades de compostagem comunitária na ilha, evitando que tenham de ser transportados para outras ilhas, como acontece atualmente.
“Serão distribuídos contentores para biorresíduos aos cidadãos (um contentor de sete litros ventilado para a cozinha e outro, de 40 litros, para deposição na rua, bem como dos ‘sets’ de sacos compostáveis), com identificação do utilizador, por forma a monitorizar a correta separação dos resíduos por cada família”, adiantou a Zero, em comunicado de imprensa.
O projeto “Corvo Zero Resíduos” será monitorizado pela associação Zero e terá o apoio da associação ambiental local Corvo Vivo.
A frota municipal de recolha será renovada, com a aquisição de duas viaturas de baixas emissões e de ferramentas de apoio às atividades de recolha, compostagem e gestão de resíduos.
Também será adquirido um biotriturador para gestão da matéria biodegradável de jardim e parques, que servirá como material estruturante para os compostores.
Aquando da distribuição dos novos contentores, haverá “uma intensa campanha de sensibilização”, no sentido de “informar os moradores sobre os seus deveres cívicos”.
A Zero espera que a campanha de separação de biorresíduos permita “um aumento progressivo da quantidade e qualidade dos resíduos recicláveis”, estando prevista também a deposição em pontos específicos dos têxteis (roupa em bom estado) e resíduos têxteis, materiais de construção e demolição, resíduos elétricos e eletrónicos, óleos alimentares usados e monstros.
Segundo a associação, as caracterizações físicas realizadas ao lixo indiferenciado indicam que os biorresíduos constituem cerca de 36% do total dos resíduos urbanos.
A taxa de recolha seletiva no Corvo situa-se nos 24% e os resíduos recolhidos na ilha são atualmente transferidos para o centro de processamento e triagem da ilha das Flores (CPR), “onde tem havido uma grande acumulação de resíduos devido à impossibilidade de os transportar por via marítima”, face às condições meteorológicas e aos constrangimentos no porto das Lajes, destruído pelo furacão Lorenzo, em 2019.
Numa segunda fase, serão implementadas iniciativas que visam promover a prevenção e reutilização, como o projeto-piloto de ‘repair-café’ e ‘repair-workshop’, onde será incentivada a reparação de pequenos eletrodomésticos, móveis, bicicletas ou equipamentos desportivos, com a realização de cursos, atividades culturais e pequenas feiras, “numa ótica da economia da troca e de promoção da circularidade”.
Outra das iniciativas previstas é a criação de uma “biblioteca das coisas”, para “disponibilizar pequenos equipamentos, ferramentas ou objetos vários, cuja utilização seja apenas necessária por pequenos períodos, permitindo ter um ‘stock’ disponível para toda a população da ilha, sem necessidade de adquirir artigos importados de outras ilhas ou do continente”.
O projeto pretende ainda implementar um sistema de reutilização de fraldas (lavagem e acompanhamento técnico), através das instituições e escolas da ilha, e monitorizar os eventos culturais e desportivos e as atividades turísticas, para evitar o uso de embalagens descartáveis.
O Corvo é o primeiro município insular e o primeiro de uma região com estatuto de Reserva da Biosfera da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a candidatar-se à certificação Zero Resíduos.