Costa da Caparica comemora 30 anos de paisagem protegida (com FOTOS)



Faz hoje 30 anos que a arriba fóssil da Costa da Caparica, na margem sul do Tejo, foi classificada como paisagem protegida. O objectivo foi preservar as características geomorfológicas e as comunidades naturais existentes no local, promovendo o seu equilíbrio biológico e paisagístico, mas nem tudo correu bem.

“A paisagem protegida da Costa da Caparica localiza-se perto de grandes centros urbanos e com interesse balnear, [por isso] tem sofrido várias alterações provocadas por actividades humanos, que se manifesta na elevada pressão urbanística, circulação automóvel, construção clandestina e deposição de resíduos”, explica a ONG ambiente Quercus.

A forte pressão turística reflete-se na construção de segundas habitações, campismo ilegal e utilização indevida da zona dunar para prática de desportos todo-o-terreno. Por outro lado, as actividades agrícolas intensivas e práticas de pastoreio não contralado contribuem para a degradação da qualidade das águas superficiais e subterrâneas. “Apesar de já ter sido implementado um programa de recuperação dunar, as espécies exóticas invasoras continuam a constituir uma preocupação devido ao seu carácter adaptativo e forte pressão urbana, que favorece a sua propagação”, continua a Quercus.

O que foi feito de positivo?

Nem tudo são más notícias, porém. A arriba fóssil, que resulta de uma antiga arriba que, devido à regressão marinha, deixou de estar em contacto com o mar, constitui o elemento de paisagem mais significativo da área protegida, estendendo-se até à Lagoa da Albufeira.

A criação da paisagem protegida permitiu valorizar o património natural já existente e aumentar o conhecimento sobre o local. Foram desenvolvidos programas de monitorização de aves aquáticas nas lagoas de Albufeira, Pequena e da Estacada, com o desenvolvimento de estudos sobre a distribuição ecológicas de espécies relevantes, como a lontra, rato-de-cabrera e víbora-cornuda.

Foram também identificados e monitorizados morcegos e aumentou a investigação científica no domínio lagunar e marítimo. Houve também um aumento da biodiversidade da fauna marinha na lagoa de Albufeira, devido à implementação de um plano que incluiu a correcta abertura da lagoa para o mar, a realização de drenagens periódicas e imposição de limitações às actividades antropogénicas.

Hoje, estão inventariadas 169 espécies de fauna terrestre, 10 das quais apresentam valores ecológicos mais elevados.

As oportunidades

As características únicas que caracterizam a paisagem protegida da arriba fóssil da Costa da Caparica, explica a Quercus, conferem-lhe enormes potencialidades em sectores como o turismo, agricultura, pesca ou investigação científica.

Para tal, a Quercus propõe um conjunto de acções, que vão da criação de um programa de renaturalização da orla costeira que inclua a recuperação da vegetação dunar e demolição de infraestruturas construídas em cima das dunas até ao condicionamento total da construção e expansão urbanística e turística.

É também necessário definir zonas de protecção para espécies prioritárias, implementar medidas de conservação da área florestal da Mata Nacional dos Medos – incluindo silvicultura sustentável – promover actividades ligadas ao ecoturismo e potenciar o desenvolvimento de estudos de investigação científica.

A Quercus desenvolveu ainda um quadro com a análise das forças e fraquezas da Costa da Caparica. Veja-a mais abaixo. Antes, recorde algumas das mais deslumbrantes paisagens da costa.

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Fotos:  iketaka /  Gustty /  andruby /  berther /  mimolag / Creative Commons

 

Forças

Fraquezas

Diagnóstico

  • Inclui a Reserva Botânica da Mata Nacional dos Medos;
  • Património geomorfológico com elevado nível de conservação – a Arriba Fóssil da Costa da Caparica;
  • Possui 8 habitats prioritários incluídos na Directiva Habitats;
  • No património florístico da PPAFCC, destaca-se a presença de espécies endémicas lusitânicas;
  • No património faunístico, destaca-se a presença de 10 espécies com elevado valor ecológico;
  • Implementação de programas de monitorização de aves aquáticas nas lagoas de Albufeira, Pequena e Estacada;
  • Implementação de um plano de recuperação para a lagoa de Albufeira;
  • Implementação de um programa de recuperação do cordão dunar;
  • Criação de dois Centros de Interpretação da Natureza e um Centro Geológico de Interpretação.
  • Forte pressão urbanística;
  • Construções clandestinas junto às encostas da arriba;
  • Abandono de resíduos, com a formação de aterros ilegais;
  • Forte pressão turística;
  • Aumento da construção de segundas habitações, de grandes infraestruturas e de equipamentos turísticos;
  • Campismo ilegal;
  • Congestionamento rodoviário e estacionamento desordenado;
  • Sobrecarga física – elevado número de visitantes em determinadas áreas;
  • Utilização indevida da zona dunar para desportos todo-o-terreno;
  • Degradação da qualidade das águas superficiais e subterrâneas devido à agricultura intensiva nas Terras da Costa e às práticas de pastoreio não controladas;
  • Proliferação das espécies exóticas invasoras.

Prognóstico

  • Proximidade a Lisboa e Almada;
  • Proximidade a núcleos universitários e a entidades especializadas, potenciando a investigação científica;
  • Grande potencialidade turística, nomeadamente ao nível do Ecoturismo e atividades ligadas ao turismo de natureza e marítimas;
  • Criação de programas de renaturalização da orla costeira;
  • Melhoria da fiscalização e vigilância no parque;
  • Definição de zonas de proteção para espécies prioritárias;
  • Implementação de medidas de conservação da área florestal da Mata Nacional dos Medos;
  • Implementação de programas de controlo de espécies exóticas, a incidir sobretudo na sensibilização e educação ambiental das populações para esta problemática;
  • Aposta na certificação dos produtos das Terras da Costa.

 

  • Riscos naturais, associados à forte erosão costeira, galgamentos oceânicos, erosão da arriba e incêndios florestais;
  • Contínua introdução de espécies exóticas vegetais e animais;
  • Abate ilegal de espécies protegidas;
  • Colheita de espécies de flora ameaçada;
  • Intervenções florestais inadequadas ou mal conduzidas;
  • Poluição nos cursos de água;
  • Construções ilegais;
  • Pressão turística, com prática de visitação desordenada e turismo de natureza não licenciado;
  • Excesso de atividades piscatórias ou lúdicas de embarcações nas lagoas de Albufeira e Pequena;
  • Atividades de lazer nas praias e nas imediações das lagoas (festivais de verão);
  • Abandono de campos agrícolas e uso de químicos na agricultura;
  • Pesca excessiva e captura de indivíduos imaturos ou em fase de reprodução.

 

Oportunidades

Ameaças

 





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