Costa quer maior cooperação com a Argélia no hidrogénio verde



O primeiro-ministro manifestou ontem esperança em desenvolver uma maior cooperação com a Argélia no setor das energias renováveis e em particular do hidrogénio verde, com o Presidente argelino a reconhecer que esse tipo de energias se está a impor.

Num discurso em francês na sessão de abertura do Fórum Económico Portugal-Argélia, que decorreu hoje em Lisboa e no qual também participou o Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, António Costa destacou que a Argélia “conhece bem os trunfos” de Portugal, em particular no setor da construção, metalurgia e produção de equipamentos.

No entanto, o chefe do executivo português defendeu que, além destes setores, os dois países têm também “oportunidades de investimento noutras áreas”, como os produtos farmacêuticos, cooperação entre portos e, “sobretudo, na área da energia”.

Dedicando depois uma longa parte do seu discurso, de cerca de 15 minutos, ao setor energético, António Costa referiu que “o grande desafio que a humanidade tem de enfrentar nos próximos anos é o desafio das alterações climáticas”, defendendo a necessidade de se mudar o atual modelo energético.

Reconhecendo que a Argélia “é um dos principais fornecedores de gás natural para Portugal”, e tem um “papel fundamental” no abastecimento energético do país, o primeiro-ministro sublinhou que uma alteração do modelo energético não significa “deixar de utilizar e consumir recursos em que a Argélia é muito rica”.

“A neutralidade carbónica não significa o zero carbónico, significa um equilíbrio sustentável para a natureza e para o futuro da humanidade”, disse.

Para que isso seja possível, disse António Costa, é preciso “desenvolver e investir noutras fontes energéticas”, em particular nas energias renováveis, como Portugal tem feito através do investimento na energia eólica, hídrica e solar.

“Continuamos a ser importadores de gás natural, em particular da Argélia, mas investimos muito nas diferentes energias renováveis – hídrico, eólico e solar – e temos um potencial enorme de crescimento na produção de energia solar”, referiu.

Além do peso que esse tipo de energias tem no consumo nacional de eletricidade, Costa referiu que as renováveis “são também oportunidades e fontes para a produção de novos gases renováveis, em particular do hidrogénio verde”.

“É nesse sentido que podemos, e devemos, trabalhar em conjunto. Porque, para o futuro da humanidade e da economia mundial, será necessário fazer uma mistura entre as fontes tradicionais de energia e este novo tipo”, sublinhou.

O primeiro-ministro disse que, em Portugal, estão em curso experiências de injeção de gás natural e hidrogénio no mesmo sistema que mostram que o gás natural pode ser utilizado “com uma combinação de pelo menos 20% de hidrogénio verde”.

“Isso quer dizer que se abre uma nova estrada de cooperação entre os nossos dois países”, disse.

Intervindo depois do primeiro-ministro português, o Presidente da Argélia referiu que o seu país está a diversificar a economia para se libertar da “omnipresença dos hidrocarbonetos”.

Segundo dados avançados por Abdelmadjid Tebboune, a Argélia conseguiu, em dois anos, substituir 20% a 30% do peso dos combustíveis fósseis no total das suas exportações, tendo terminado o ano de 2022 com “quase sete mil milhões de dólares em exportações sem contar com os hidrocarbonetos”.

Apesar disso, o chefe de Estado destacou a dependência que ainda existe a nível mundial quanto a combustíveis fósseis, apesar de reconhecer que as “energias renováveis se estão a impor” e que não é “contra a reconversão energética”.

“Mesmo que haja uma vontade muito grande para fazer a reconversão, constatamos que, ainda assim, as energias renováveis só correspondem a 20% do consumo energético mundial. O caminho ainda é muito longo”, disse.

Contudo, Tebboune sublinhou que a Argélia também está a apostar nas energias renováveis, tendo inclusive lançado a sua própria produção nacional de hidrogénio verde.

“Estamos prontos para disponibilizá-la aos nossos amigos europeus, porque estamos muito ligados à União Europeia e aos nossos amigos europeus. Pensamos que o nosso futuro é comum”, frisou.





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