Da profundeza dos oceanos às galáxias distantes: Nature revela as dez figuras que marcaram a ciência em 2025
A revista Nature divulgou a sua lista anual das dez pessoas que mais influenciaram a ciência em 2025. Entre os nomes escolhidos estão uma exploradora das grandes profundezas, o físico por detrás de um novo telescópio espacial, investigadores de saúde responsáveis por avanços decisivos e até KJ Muldoon, um bebé de um ano que se tornou o primeiro paciente a receber uma terapia genética personalizada com recurso à técnica CRISPR. O brasileiro Luciano Moreira, que passou uma temporada na Austrália a estudar dengue transmitida por mosquitos, integra o grupo, enquanto a oncologista Georgina Long, da Universidade de Sydney, surge como figura a acompanhar em 2026, graças a uma terapia imunológica para tumores cerebrais que se prepara para entrar em ensaios clínicos.
Exploração e descoberta
A edição deste ano, explica Brendan Maher, editor de features da Nature, destaca “a exploração de novas fronteiras, o potencial de avanços médicos revolucionários, a defesa inabalável da integridade científica e o contributo de quem molda políticas globais que salvam vidas”.
Entre os protagonistas está Tony Tyson, físico da Universidade da Califórnia, Davis, cujo trabalho em tecnologia de câmaras digitais foi crucial para o desenvolvimento do Observatório Vera Rubin, no Chile. A instalação, avaliada em 810 milhões de dólares, promete imagens sem precedentes de galáxias longínquas. “Foi um risco enorme, mas de grande recompensa. Decidimos avançar”, recorda Tyson, que imaginou o projeto há mais de três décadas.
No extremo oposto do planeta — e do espectro científico — Mengran Du, geocientista do Instituto de Ciência e Engenharia do Mar Profundo da Academia Chinesa de Ciências, desceu 9.000 metros num submersível para observar, pela primeira vez, um ecossistema povoado por criaturas surpreendentes.
Já ao nível molecular, a bióloga de sistemas Yifat Merbl, do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, revelou uma faceta até então desconhecida do sistema imunitário humano. Estudando os proteassomas — estruturas celulares responsáveis pela reciclagem de proteínas — descobriu que, em determinadas condições, estes geram péptidos antimicrobianos que ajudam a combater infecções.
Avanços na saúde
O ano foi também marcado por conquistas médicas há muito esperadas. A neurologista Sarah Tabrizi, do University College London, integrou a equipa que desenvolveu uma terapia capaz de abrandar a progressão da doença de Huntington, uma condição genética fatal para a qual os cientistas procuram tratamento há décadas.
Outro momento marcante veio de KJ Muldoon, um bebé da periferia de Filadélfia cujo sorriso correu o mundo. Após receber uma inovadora terapia de edição genética, o pequeno parece ter superado uma doença ultra-rara que comprometia a sua capacidade de metabolizar proteínas.
Disrupção tecnológica e integridade científica
O sector da inteligência artificial foi abalado em Janeiro, quando o financiador chinês Liang Wenfeng lançou o modelo DeepSeek. O sistema rivaliza com alguns dos melhores modelos existentes, mas foi construído com recursos muito inferiores e disponibilizado de forma gratuita, permitindo que investigadores o descarreguem e adaptem livremente.
Na Índia, o cientista de dados Achal Agrawal dedicou o ano a expor problemas de integridade na investigação científica, contribuindo para mudanças históricas na forma como as instituições de ensino superior do país são avaliadas.
Defesa da saúde pública
Em Belo Horizonte, no Brasil, o investigador agrícola Luciano Moreira abriu a primeira fábrica dedicada à produção de mosquitos infetados com a bactéria Wolbachia. Ao libertar milhões destes insetos — incapazes de transmitir agentes patogénicos perigosos — espera travar o avanço da dengue, doença viral potencialmente mortal.
No continente africano, a especialista em saúde pública Precious Matsoso, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, foi peça-chave na negociação do primeiro tratado global de preparação para pandemias.
E nos Estados Unidos, Susan Monarez, microbiologista e imunologista, enfrentou a administração Trump ao recusar despedir funcionários e acelerar políticas de vacinação sem base científica, uma posição que lhe custou a chefia dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC).
Maher sublinha que, “num ano desafiante para a ciência em todo o mundo, foi reconfortante assistir a descobertas tão extraordinárias e ao trabalho inspirador de tantos investigadores — apenas alguns dos quais conseguiram entrar nesta lista”.